terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Textos na gaveta

Muitas vezes, os estudos e outras atividades tomam todo o tempo disponível e você é obrigado a deixar algumas coisas de lado. A agenda ocupada é o motivo de eu não publicar textos com muita frequencia. No arquivo do Evolução e biologia existem vários textos imcompletos que eu não tive tempo de terminar. baixo, vão dois deles que eu publiquei atrasado.

O bicentenário de Charles Darwin. Texto especial, pela ocasião dos 200 anos de nascimento do naturalista inglês e dos 150 anos da teoria da evolução pela seleção natural.









Peixe olhos-de-barril. Texto sobre a descoberta feita pelo MBARI sobre essa espécie de peixe abissal, que revelou muita coisa desconhecida sobre sua morfologia e hábitos.






terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Evolução das Toutinegras

POR EDUARDO REAL



São diversos os impactos ambientais causados pelas atividades humanas. Mas cientistas britânicos observaram um caso peculiar. A vários anos, os ingleses começaram com o hábito de instalar comedouros para pássaros em seus jardins, para enfeitá-los com a presença deles. O costume se popularizou com o tempo, tanto que causou certas conseqüências as populações das aves.

As toutinegras de barrete preto (Sylvia atricapilla), migravam durante o inverno para Espanha, onde se alimentavam de frutos. Porém, uma parte delas, agora passa a estação no sul da Inglaterra. As que se deslocavam mais para o norte, acabavam pousando por lá, mas o alimento era escasso e não permaneciam. Agora com os alimentadores elas ficam por ali mesmo.

Análises de alguns exemplares, mostra que os comedouros podem estar causando uma especiação. Foram notadas diferenças na plumagem, no bico e nas asas. Como a viagem agora é mais curta, essas toutinegras apresentam asas mais arredondadas e os bicos ficaram mais longos para poderem alcançar melhor as sementes. Todas essas modificações aconteceram no intervalo de 50 anos.

Não é o primeiro caso de seleção natural influenciada por nós. O aumento do número de elefantes com presas menores e a diminuição do tamanho médio dos peixes de valor comercial, são alguns exemplos. Causados pela caça pelo marfim e pela pesca em larga escala. O que os diferencia das toutinegras é que o impacto sobre as aves não foi negativo. As ilhas britânicas ficam mais próximas de seus locais de nidificação e os pássaros que vão para lá, não precisam se arriscar sobre os Alpes. Toda essa influencia antrópica resultou em vantagem adaptativa.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Homem de Piltdown

POR EDUARDO REAL

Em 1912, o arqueólogo e geólogo amador Charles Dawson alegou a descoberta de fósseis humanos, na pedreira de Piltdown, Sussex, Inglaterra. O achado consistia em uma mandíbula e a calota craniana, próximos um do outro. A reconstituição mostrou um hominídeo com caixa craniana de tamanho semelhante ao nosso e uma mandíbula robusta com dentes semelhante a de símios. Com a colaboração de Arthur Woodward e Pierre Teilhard, a nova espécie foi anunciada no mesmo ano e recebeu o nome científico de Eoanthropus dawsoni.

O hominídeo descoberto por Dawson, não era o primeiro. Em 1856 - três anos antes da publicação de A Origem das Espécies - encontraram o homem de neandertal. O hominídeo mais próximo de nós. E em 1891, Eugéne Dubois, encontrou o Homo Erectus. O primeiro ancestral direto da linhagem humana.

E então veio o achado de 1912, que foi apresentado como um ancestral humano. Os fósseis até então encontrados possuíam cérebro bem evoluído e mandíbula e dentes diminuídos. Já o exemplar de Dawson, possuia cérebro grande e uma mandíbula primitiva.

Por esse motivo, levantaram a hipótese que o homem de Piltdown era um ancestral mais antigo e suas características pareciam comprovar a hipótese - muito popular entre os cientistas britânicos - de que o cérebro teria evoluído antes da dieta onívora. Calcularam que ele viveu por volta de 500.000 anos atras. O que não veio desacompanhado de certo ceticismo.

Já em 1915, o paleontólogo francês Marcellin Boule concluiu que a mandíbula era de um macaco. Da mesma forma que o zoólogo americano Gerrit Smith Miller. E em 1923, Franz Weidenreich analisou os moldes e concluiu que era o crânio de um humano moderno e uma mandíbula de orangotango.

Porém, no mesmo ano, Dawson anunciou ter descoberto um segundo crânio; também em Piltdown, mas em lugar não revelado. O segundo espécime calou boa parte das críticas e afastou a suspeita de engano. Dawson morreria em 1916, vítima de septicemia. E nenhum outro exemplar seria achado. Em 1920, Teilhard publicou importante artigo sobre o tema.

Mas o castelo de cartas começou a cair lentamente. Em 1920, paleontólogos descobriram os ossos do Australopithecus afarensis. Em 1929, foi a vez do homem de Pequim e em 1934 a do Homo rudolphensis. Assim como outros australopitecus e membros do gênero Homo e foi possível montar a árvore genealógica humana. Ficando claro que o cérebro e a dieta onívora evoluíram conjuntamente. O homem de Piltdown não se encaixava na linhagem. Sua anatomia era totalmente anacrônica. O fóssil perdeu importância e na década de 40 nem era mais listado na descendência do homem.

E em 1953, Page Kenneth Oakley, Sir Wilfrid Edward Le Gross Clark e Joseph Weiner constataram a fraude. Tratava-se de um crânio humano, uma mandíbula de um orangotango e os dentes de um chimpanzé. A datação com isótopos de fluor, revelou que o cranio humano datava da idade média e os ossos de macaco mais recentes. Os ossos foram banhados em uma solução de óxido férrico e ácido crômico para ficarem com o aspecto envelhecido. E os dentes tiveram seus tamanhos reduzidos com o uso de um abrasivo.

O principal suspeito de ser o autor da fraude é Dawson, que anunciou a descoberta dos dois exemplares. Um levantamento de seu acervo pessoal identificou 38 itens que são fraudes evidentes. Sua motivações seriam o ganho de notoriedade e uma bolsa na Real Society. Mas a identidade do falsário até hoje é um mistério e mesmo que fosse o autor existem suspeitas de que ele teria colaboradores. Como Pierre Teilhard, Arthur Woodward e Sir Arthur Keith, também apontado como cumplices ou autores.

Criacionistas frequentemente citam o homem de Piltdown como uma armação feita pelos cientistas para provar que a teoria de Darwin está certa. Ou ainda para levantar suspeitas sobre os demais hominídeos fósseis. Porém, analisando a cronologia dos fatos e o contexto é possível entender os motivos da farsa ter durado mais de quarenta anos.

Quando a espécie foi anunciada, poucos hominídeos haviam sido descobertos e o conhecimento sobre sua evolução era escasso. E as caracteristicas do achado pareciam confirmar a teoria vigente de que a alimentação atual evoluiu depois do cérebro. Também a técnica de datação pelo flúor só foi desenvolvida anos depois. O nacionalismo pode ter influenciado a aceitação do fóssil pelos cientistas britânicos. Já haviam encontrado hominídeos fósseis na Alemanha e na França, mas não na Inglaterra. Isso explicaria o fato de os primeiros críticos serem de outras nações.

É muito mais provável que a criação e longa duração do embuste, tenha sido motivada mais por ambições pessoais e pela falta de conhecimento da época. Hoje em dia, seria muito difícil que algo assim durasse tanto tempo, com os recursos tecnológicos disponíveis para a investigação atualmente. A ciência com sua continua revisão garante que as fraudes sejam descobertas e se chegue mais próximo da realidade.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mais um pterossauro

O Brasil já conta com uma verdadeira coleção de espécies de pterossauros, rica em quantidade e variedade. Paleontólogos identificaram mais uma espécie de réptil voador que viveu em nosso país.

O Tupuxuara deliradamus, de 4,5 metros de invergadura e de 100 milhões de anos de idade. Seu nome científico foi dado por causa do formato da fenestra nasorbital, localizadano crânio e que possui formato de diamante.

A característica mais marcante é a crista localizada no topo de sua cabeça e que segundo o paleontólogo Mark Witton servia apenas para indicar dimorfismo sexual. O que contrária a hipotese formulada pelo paleontólogo brasileiro Alexander Kellner, de que a crista serviria para resfriar o corpo do animal, tal qual o radiador de um carro.

Mas, Witton firma que os vestígios de vasos sanguíneos são muito superficiais e dessa forma não poderia exercer essa função. Argumenta ainda que em outros tupuxuaras, a crista só é encontrada desenvolvida em indivíduos adultos o que reforçaria a sua tese.

A descoberta causou rebuliço não só pelo conteúdo científico, mas também pelo fato do fóssil brasileiro ter sido estudado e descrito em uma universidade do exterior. A venda de fósseis é proibida por lei e existe suspeita de contrabando para o exterior.

sábado, 3 de outubro de 2009

Peixe descoberto no litoral brasileiro

POR EDUARDO REAL

Os pesquisadores do projeto TAMAR tiveram uma surpresa ao achar um peixe desconhecido; fisgado em anzóis circulares que não oferecem risco para as tartarugas-marinhas e que estavam sendo testados.
Ele estava a 1000 metros de profundidade e foi filmado e capturado pelos técnicos que então analisaram esse peixe diferente. Não possuía escamas, tinha olhos pequenos e dentes diminutos. Sua carne possui uma grande quantidade de gordura, o que dá a ele uma consistência gelatinosa. O espécime pesava quarenta quilos e media um metro e oitenta e três.

Não existe registro da espécie na literatura científica, o que faz do encontro casual com o peixe algo especial. Calcula-se que existam cerca de 150 espécies de peixe ainda desconhecidas no litoral brasileiro. O exemplar capturado é de um peixe abissal, zona do mar ainda pouco estudada no Brasil. Vamos aguardar qual nome será dado ao nosso amigo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O perigo da Medicina Tradicional Chinesa

POR EDUARDO REAL

A medicina tradicional é predominante em países ocidentais e suas práticas são bem conhecidas pela população. Contudo, não são as únicas práticas de saúde. Existindo métodos conhecidos genéricamente como terapias alternativas. Entre elas está a medicina tradicional chinesa. Rara no Ocidente, porém comum no leste asiático.

Possuí diversos tipos de tratamentos, como a acupuntura. Porém, o texto focará medicamentos a base de produtos animais, oriundos da fitoterapia.

Sua origem é muito anterior a era cristã, surgindo por volta de 2200 anos a. c. E seu princípio de funcionamento está estritamente relacionado á filosofia presente no Taoismo e conceitos espirituais orientais. O indivíduo é visto como um sistema integrado entre a mente e o corpo que trabalha para para manter o funcionamento normal. Esse é o princípio do ying e yang e é o desequilíbrio entre eles que causaria as doenças e certos componentes ajudariam a reestabelecer o equilíbrio.

A MTC possui uma grande lista de ingredientes de origem animal. Um tigre, após morto, tem seu corpo desmontado em vários compostos aos quais são atribuídos as mais variadas funções: seu pênis embebido em álcool seria um potente afrodisíaco, seus ossos curariam artrite, seus bigodes seria trataria dor de dente, a fumaça de seus pêlos queimados afastariam centopéias e seu focinho pendurado sobre o leito matrimonial aumentaria as chances de ter um filho do sexo masculino. Chifres de rinoceronte curariam febres e convulsões. Chifre de veado também trataria artrite.

E por certos ingrediente serem retirados de espécie ameaçadas de extinção, os impactos dessa prática preocupam muito. De 2004 para cá a população de tigres na natureza caiu de 4600 para 2000 animais. Deixando o grande felino ainda mais próximo da extinção. O rinoceronte-indiano (Rhinoceros unicornis) também corre risco; com a procura por seus chifres o número de indivíduos encolheu. O já criticamente ameaçado rinoceronte-de-Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis), que conta com apenas 300 indivíduos em liberdade, tem a pressão dos caçadores aumentada. As espécies africanas também não estão a salvo. E mais chocante, é o fato de não existirem evidências de que tais fármacos possuam qualquer efeito. Sendo a eficácia alegada, fruto de conceitos religiosos e místicos ou da mera simbologia entre as características do animal e supostos benefícios e não de um estudo científico controlado. E mesmo que fossem efetivos contra diversas doenças, existem diversos fármacos da medicina científica que possuem ação comprovada e que não tem por conseqüência tais impactos ambientais.

Outra amostra é vista nos mares; motivada pela sopa de barbatana de tubarão. Bem conhecida no Leste Asiático, e tida como um tônico contra uma série de males, considerada afrodisiaca por alguns. Também é um prato de elite, servido em banquetes e festas de casamento. Com o crescimento econômico asiático, a nascente classe média a consome cada vez mais, como um símblo de ostentação. Uma tigela de sopa custa cerca de 100 dólares.

Para conseguí-la, é realizada a pesca do tubarão, ou finning, em que o seláquio é capturado e tem as nadadeiras cortadas. Porém, a carcaça não possui valor econômico e é jogada ao mar, onde sem ter como se locomover o tubarão morre de fome ou é devorado por peixes menores. Não existe controle de peso e idade e analisando as barbatanas e quase impossível distinguir as espécies. As mais raras - como o tubarão-baleia - chegam a custar 10.000 a 20.000 dólares.


100 milhões de toneladas de tubarões são pescadas por ano. Mas estima-se que a quantidade possa ser mais que o dobro. O enorme consumo é sustentado por pescadores de todos os mares. Incluindo os da costa brasileira Nem reservas marinhas - como as Ilhas Cocos, onde existe a maior concentração de tubarão do planeta - são respeitados.

As populações de um predador que é vital para o ecossistema marinho estão encolhendo drásticamente, a ponto de serem considerados criticamente ameaçados.

O governo chinês já fez medidas para inibir a matança. Proibiu o comércio de remédios que contnham partes de tigres e pune quem caçar um deles com a pena de morte. Com isso, ossos, garras e outros órgãos sumiram das lojas medicinais chinesas. E fármacos que eram feitos de animais em risco estão sendo substituidos pelos que são feitos de animais domésticos. Outra opção , é criá-los para o aproveitamento farmaceutico. O que já é aplicado para a extração de bile-de-urso. Antes caçadores os procuravam antes do inverno, os capturavam e arrancavam a vesícula. As fazendas de urso se tornaram mais viáveis que a caça. Nelas, instalam um catéter, por onde a bile é tirada. Contudo, a IUCN denuncia diversos maus-tratos. Mesmo essas medidas apesar de terem seu mérito, mas são inda insuficients para conter a devastação causada. A Medicina Tradicional Chinesa mostra que a pseudociência e obscurantismo podem causar danos não apenas ao homem, mas também para o meio ambiente.

REFERENCIAS:

http://en.wikipedia.org/

http://pt.wikipedia.org/

http://news.nationalgeographic.com/

http://news.bbc.co.uk/

http://edition.cnn.com/

http://skepticblog.org/2008/11/09/tcm-ii/

http://saude.hsw.uol.com.br/medicina-chinesa.htm

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Foja

Duas expedições realizadas em 2005 e 2007 foram até as montanhas de Foja, no oeste da Nova Guiné. Uma região de 1 milhão de hectares, sendo a maior floresta tropical preservada da Ásia e uma das florestas mais inexploradas do mundo.

A primeira expedição, realizada em dezembro de 2005, foi feita por uma equipe multidisciplinar, com cientistas norte-americanos, australianos e indonésios. Lá eles solucionaram um grande quebra-cabeça: a localização da ave-do-paraiso de Berlepsch (Parotia berlepsch). A ave foi descrita no século 19, com base em espécimes coletados por caçadores nativos e somente agora foi registrada em fotografia. Também foram encontrados ali monotremados (mamíferos que botam ovos) e marsupiais como o canguru de árvore (Dendrolagus pulcherimus), que só havia sido registrado no território vizinho de Papua Nova Guiné e que era considerado extinto. Eles são raros ou quase inexistentes em outras partes da ilha, mas são abundantes em Foja devido a ausência de caça.
A expedição ainda descobriu várias espécies novas. Como uma ave-do-mel de penugem preta e face alaranjada que foi batizada de (Melipotes carolae), 20 anfíbios (entre eles, uma rã de 14 milímetros), quatro borboletas, cinco palmeiras e uma espécie de rododendro branco – também conhecida como azaléia – de 15 cm de largura, podendo ser a maior flor do gênero.

Ao retornarem em 2007, as surpresas não foram menores. Com a descoberta de um rato gigante de 1,4 kg (Mallomys sp.) e uma espécie de gambá pigmeu (Cercartetus sp.), o menor marsupial do mundo. Foja mostra que ainda hoje é possível encontrar lugares com a biodiversidade original preservada e os seres vivos encontrados façam com que o lugar mereça ser chamado de paraíso perdido. Ainda evoca a época dos naturalistas viajantes como Charles Darwin e Alfred Wallace que viajaram pelo mundo quando a biologia ainda estava nascendo.

sábado, 25 de julho de 2009

O amigo que Darwin tinha no Brasil

POR EDUARDO REAL


Johann Friedrich Theodor Müller, conhecido como Fritz Müller, nasceu em 31 de março de 1822 na aldeia de Windischolzhausen próxima a Erfurt na Alemanha.Neto e filho de pastores protestantes, Müller demonstrou desde a infância grande interesse pela história natural no que foi estimulado pelo pai.

Cursou universidade em Berlim onde teve mestres como Lichtenstein e Erichson (zoólogos), Hornschuch e Kunth (botânicos) e Johannes Müller (fisiólogo).

Estudou farmacologia, ciências naturais e matemática. Doutorando-se em filosofia aos 22 anos de idade.
Em 1845 se inscreveu em um concurso para professor ginasial em Erfurt. Mas sua carreira durou pouco, pois as perseguições políticas realizadas pelo imperador Frederico “O Grande” obrigavam os professores a ensinar apenas o que o governo queria. Diante de seu propósito de jamais ser hipócrita (“sempre que tiver que falar, hei de dizer a verdade” – frase em carta enviada ao irmão August) abandonou seu emprego.

Após deixar de lecionar, Fritz Müller foi estudar medicina concluindo o curso em 1849.Novamente teve seu sonho interrompido. Por não ser mais cristão, negou a pronunciar frases religiosas durante o juramento em sua colação de grau e por esse motivo não recebeu o diploma de médico e não pode exercer a profissão. Voltou então a lecionar, mas desta vez como professor particular.

Fritz deixou de ser cristão durante a faculdade de medicina. O motivo foi a hipocrisia das instituições religiosas. Em 1848 se casou com Karoline Töellner e em 1849 nasceu sua primeira filha, Louise. Em 1852 nasceu sua segunda filha, Johanna e poucos dias depois a filha primogenita morreu.

No mesmo ano, leu um livreto escrito pelo Dr. Blumenau que divulgava a colônia fundada por ele no Brasil e Fritz Müller decidiu emigrar. Sobre o qual disse “Nessa intolerância religiosa vigente no país de Frederico não se poderia esperar por enquanto alguma mudança, então decidi emigrar. Escolhi o Brasil, primeiramente por sua rica flora e fauna, em segundo lugar porque acreditava que aqui a índole alemã poderia se conservar mais facilmente do que entre os ianques e em terceiro lugar porque o fundador da Colônia Blumenau, já me era conhecido de muitos anos”. Em 19 de maio de 1852 embarcou para o Brasil a bordo do veleiro Florentin, juntamente com a sua família e o irmão August e sua esposa. Após dois meses chegaram ao Brasil e se instalaram em Blumenau abrindo clareiras na mata e construindo uma cabana. Tempos depois uma enchente destruiu sua casa e se mudou para a outra margem do rio Itajaí onde construiu uma casa no estilo enxaimel (onde hoje é o Museu Ecológico Fritz Müller). [1]

Nos primeiros anos em que morou na colônia, Müller ajudou a construí-la, pesquisou a fauna e flora e atendeu os casos de doenças mais graves. Tinha relacionamento amigável com os índios da região que o protegiam contra animais selvagens enquanto realizava pesquisas na mata.

Contudo, Dr. Blumenau se sentiu incomodado com seu comportamento, temia que suas convicções políticas e seu descaso com a religião pudessem influenciar outros colonos. Logo tratou de lhe arranjar um emprego de professor de matemática em Desterro (atual Florianópolis) e apesar de saber as verdadeiras intenções de Dr. Blumenau, Fritz Müller aceitou o cargo de bom grado.

O emprego lhe caiu como uma luva, pois tinha tempo livre para realizar suas pesquisas sobre história natural e aliado ao fato de morar perto do mar, uma fonte inesgotável de pesquisa, foram determinantes em sua carreira de naturalista. Morou em Desterro de 1856 até 1867. Em 1856 foi ao Rio de Janeiro se naturalizar brasileiro.

Em 1861 Fritz Müller recebeu de presente de seu amigo Max Schultze, professor de zoologia em Halle, um exemplar do livro “A Origem das espécies” de Charles Darwin em alemão e ficou fascinado com os argumentos apresentados por Darwin, aceitando a teoria da evolução.Após a leitura do livro resolveu escrever uma carta para Charles Darwin falando sobre o livro (pratica comum entre os naturalistas da época). Então lhe veio outra idéia. Fazer seus próprios experimentos para comprovar a teoria da evolução.

Fritz Müller então buscou uma espécie para servir como modelo para colocar a prova a teoria de Darwin. Optou pelos crustáceos por vários motivos; por serem abundantes na região, já terem uma classificação taxionômica conhecida e por apresentarem um desenvolvimento ortogenético complexo e variado.Em abril de 1862 ele escrevia ao irmão em Lippstadt: "No último verão me ocupei quase que exclusivamente com crustáceos, mais propriamente com a história do desenvolvimento dos camarões e lagostins, que lança uma luz totalmente nova nas condições de parentesco dos crustáceos e sobre toda a morfologia dos artrópodes; espero que isto possa ser utilizado como importante meio de comprovação a favor dos ensinamentos de Darwin sobre a origem das espécies animais e vegetais. Elaborar a história do desenvolvimento dos animais a partir de larvas pescadas no mar, as quais percorrem uma longa série de formas, é um dos trabalhos mais sacrificados e que mais tempo consomem, mas também é de todos o mais atraente, emocionante e com freqüência, cheio de verdadeiro enredo romanesco, decepções, surpresas”.

O objetivo de Müller era descobrir se os crustáceos evoluíram, se adaptando ao ambiente. Estudou em várias espécies as formas que os crustáceos passam até chegar a idade adulta definitiva. Descobriu que algumas espécies tinham um desenvolvimento mais complexo, passando por vários desses estágios. Outras paravam no meio do caminho, adotando um desses pré-estágios como forma adulta.

Assim ele montou uma espécie de árvore genealógica dos crustáceos, concluindo que as espécies com desenvolvimento mais complexo evoluíram de outras com desenvolvimento mais simples por meio de adaptações ao ambiente. Todos os estudos comprovaram o que Darwin havia descrito em teoria. Os estágios pelos quais passam os crustáceos antes de chegar à forma adulta seriam repetições das espécies ancestrais a partir das quais esses animais evoluíram.

Em 7 de Setembro de 1863, Fritz Müller concluía um pequeno porém consistente livro, repleto de fatos novos e em consonância com as ideias propostas por Darwin."Für Darwin" (A Favor Darwin) foi editado em Leipzig, Alemanha, em 1864. Não demorou para que o próprio Darwin viesse a tomar conhecimento deste precioso e inesperado colaborador que se manifestava da América do Sul.

Darwin ficou impressionado com o livro e bancou a tradução para o inglês, lançando a obra com o nome Facts and arguments for Darwin (Fatos e argumentos a favor de Darwin), e passou a citar o cientista alemão nas edições seguintes de "Sobre a origem das espécies". Os dois naturalistas trocaram correspondência intensa e se tornaram amigos. A primeira carta foi escrita por Darwin em 10 de agosto de 1865. A última carta que Darwin remeteu para Fritz Müller, foi datada em 4 de abril de 1882, quinze dias antes de sua morte. Sabe-se que Darwin escreveu 58 cartas a Fritz Müller, em 17 anos de troca de correspondência. Uma freqüência considerável, uma vez que em média, uma carta levava 45 dias a caminho.

Também manteve correspondência com Hermann Müller, Alexander Agassiz, Ernst Krause, e Ernst Haeckel.

Haeckel generalizou conceitos introduzidos por Fritz Müller, elaborando a controversa Lei da Biogenética Fundamental. Passou a afirmar, de forma dogmática, que todas as espécies de animais recapitulam as mudanças ocorridas em sua ancestralidade durante o desenvolvimento larval ou embrionário.

Outros trabalhos

Fritz Müller também contribuiu com a biologia com a teoria do mimetismo mülleriano. Formulou a teoria ao observar que diferentes espécies de borboletas da mata Atlântica possuíam sabor desagradável se assemelhavam mutuamente a fim de enganar as aves. Se um pássaro “experimentasse” uma borboleta de qualquer uma destas espécies se lembraria de seu gosto horrível e evitaria comer outras borboletas parecidas. Essa relação é chamada de mimetismo de Müller ou anel mimético que era diferente do mimetismo apresentado por Henry Bates. [2]Para analisar o mimetismo entre duas espécies de lepidópteros, ele elaborou a primeira equação matemática aplicada à ecologia. [3]

Publicou 248 artigos científicos sobre o estudo de animais e plantas. Catalogou novas espécies e realizou estudos sobre crustáceos, borboletas, cupins, abelhas brasileiras (foi um dos maiores observadores) e outros insetos.

Uma boa parte do que se sabe sobre a biologia desses seres vivos. Do qual podemos citar:

Abelhas sem ferrão. Um dos seus temas preferidos, etudou os habitos das ablhas melíferas sem ferrão dos gêneros Melpoma e Trigona. Se protegem expelindo um veneno quando perturbadas.

Dimorfismo sexual em mosquitos. Outra descobera foi o dimorfismo sexual em mosquitos da familia Blepharicedae. Existem duas formas femininas com diferentes aparelhos bucais: uma suga sangue e outra néctar - igual aos machos. Para comprovar, ele seccionou as moscas; criadas desde o estágio de pupas.

Cupins. Müller corrigiu muitos erros da literatura científica sobre os cupins. Seu sistema d castas é bem diferente das formigas. Existindo membros de ambos os sexos, enquanto que entre os himenópteros as castas são formada apenas por fêmeas. Os cupins são classificados em um grupo totalmente a parte das formigas, denominada Isoptera.

Entre 1884 e 1885, encontrou um verme gigante de 1,5 metros (Balanoglossus gigas), até então conhecido apenas em versões bem menores. Mas não conseguiu convencer a comunidade científica da descoberta por não conseguir enviar um exemplar inteiro para a Europa (ele se enterrava na areia e quebrava ao ser puxado). Só em 1893 a descoberta foi confirmada, com exemplares do mesmo animal encontrados em São Sebastião, no litoral paulista.

Pesquisou a simbiose entre a embaúba e formigas. No pecíolo da folha da embaúba existe uma parte branca e saliente que vista pelo microscópio revela uma glândula (chamada “corpúsculo de Müller” em homenagem ao descobridor) que produz uma substância doce que contem glicogênio. As formigas se alimentam deste mel e vivem entre os nós dos galhos da embaúba protegendo a árvore do ataque de insetos nocivos.

Fez também excelentes observações sobre a fecundação de orquidáceas. Descobrindo que tais plantas são auto-estéreis, ou seja, o pólen de uma flor é incapaz de fecundar os óvulos da mesma. Dependendo de agentes polinizadores. Esses dados ajudaram Darwin em sua pesquisas sobre orquideas. Fritz também trocou sementes com Joseph Hooker, que lhe enviou amostras do Jardim Botânico de Kew.

No fim da vida se dedicou ao estudo de bromélias. E uma das mais belas descobertas se refere à fauna encontrada nas bromeliáceas. Nestas plantas ocorre o acúmulo de água suficiente para permitir a proliferação de muitos seres minúsculos – protozoários, miriápodes, larvas de dípteros, ortópteros, neurópteros, tricópteros, tipulídeos e sirfídeos, além turbelários, aracnídeos e um crustáceo da família Cytheridae, ao qual deu o nome de Elpidium bromeliarum.

Fez também excelentes observações sobre a fecundação de orquidáceas. Descobrindo que tais plantas são auto-estéreis, ou seja, o pólen de uma flor é incapaz de fecundar os óvulos da mesma. Dependendo de agentes polinizadores.Retornou a Blumenau em 1867 e voltou à atividade de colono, pesquisador e médico se tornando presidente da câmara dos vereadores anos depois. 1876 foi nomeado “Naturalista viajante” do museu nacional por D. Pedro II e só perdeu o cargo em 1891 com a proclamação da república.

Foi chamado por Darwin de “O Príncipe das Observações” e recebeu o título de Doutor Honoris Causa das universidades de Tübingen e de Bonn na Alemanha.No final de sua vida era considerado um dos maiores cientistas do mundo apesar de estar longe dos grandes centros acadêmicos da Europa e praticamente não ter contato com outros pesquisadores. Seus artigos podem ser vistos na biblioteca da USP em São Paulo.

Johann Friedrich Theodor Müller faleceu no dia 21 de maio de 1897, aos 75 anos, na casa de sua filha Johanna em Blumenau. Teve dez filhos, destes apenas um do sexo masculino que morreu pouco depois do parto. Recebeu várias homenagens póstumas incluindo uma estátua em uma praça em Blumenau e um museu ecológico instalado em sua antiga casa. Além de várias homenagens do meio acadêmico. Haeckel o chamou de “Herói da Ciência”. Sua vida foi descritas em várias biografias e deixando uma lição de humildade, amor pela ciência e busca pela liberdade expressada por duas de suas frases; “sem liberdade não há verdade e nem virtude” e “... tomei a firme decisão de tudo sacrificar pela verdade e pela liberdade”.

O livro de Fritz Müller "Facts and Arguments for Darwin" pode ser visto no site abaixo (em inglês):
http://www.wattpad.com/10558

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Selo da Scientifican American Brasil

O Evolução e biologia está prestes a completar dois anos de existência com o objetivo de divulgar a ciência e defender a biologia do ataque de pseudociências. Sempre com a preocupação da qualidade das informações. E, com surpresa, que no mês passado recebi uma mensagem da editora Duetto informando que o Evolução e biologia receberia o elo da Scientific American Brasil.

É muito gratificante esse reconhecimento vindo de uma das melhores revistas de divulgação científica do país. E reforça ainda mais o compromisso de fazer divulgação científica de qualidade e continuar a abordar temas sobre a biologia. A promoção da ciência e do pensamento crítico é muito importante para a sociedade e é esse ideal que move este blog. Meu fascínio por esses temas e a intenção de fazer ciência vieram justamente pela divulgação da mesma e com essa iniciativa, quem sabe, também inspirar futuros cientistas.

Tenho que agradecer a Scientific American Brasil que teve essa iniciativa e a Fernanda da Editora Duetto que foi quem descobriu o blog. E também ao Ravick Bitencourt, um grande amigo e entusiasta do blog que sempre me apoiou e acompanhou como leitor e colaborador, divulgando o E&B no Os Amorais. Assim como a todos os colaboradores e leitores do blog.

"Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil - e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos." (Albert Einstein)

Eduardo Real
"Evolução e Biologia"

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Arau gigante

Arau-gigante (Pinguinus impennis) é uma espécie de ave alcídeo não voadora que habitava ilhas do Atlântico Norte, nas costas do Canadá, Groelândia, Islândia, Noruega e Grã-Bretanha. Apesar do nome pinguinus não possuía ligação evolutiva próxima com os pingüins.

O arau-gigante era o maior do grupo dos alcídeos, com cerca de 75 cm de comprimento para 5 kg, um peso relativamente elevado para uma ave do seu tamanho e possível apenas porque era não voador. A sua plumagem era brilhante, branca e negra, com as maiores remiges (penas de vôo) medindo apenas cerca de 10 cm, insuficientes para voar. Os pés eram pretos, bem como os dedos que estavam unidos por uma membrana interdigital de cor castanha. O bico era também negro, com riscas transversais brancas. A cabeça era predominantemente preta, com manchas de plumas brancas entre o bico e olhos.

O arau-gigante não voava mas era um excelente nadador subaquático, propulsionado pelas asas, convertidas em barbatanas. A sua fonte de alimentação era peixes de tamanho médio, até cerca de metade do seu comprimento total. Os seus principais predadores eram cetáceos e aves de rapina. Em terra o arau-gigante não conhecia predadores e movimentava-se lentamente sem receios inatos.A época de reprodução tinha lugar no Verão e os juvenis chocavam por volta de Junho. Cada casal de araus-gigantes incubava apenas um ovo, amarelado e ponteado de negro, por ano.

O desaparecimento do arau-gigante deve-se apenas à intervenção do Homem. O arau-gigante era procurado pela carne, ovos e plumas, mas este tipo de caça não afectou a sua população em termos globais. Com o advento da exploração marítima do Atlântico Norte, o Homem passou a caçar os araus-gigantes em toda a extensão do seu habitat e nas suas colónias de nidificação. Em terra, era particularmente vulnerável, dada a sua incapacidade de voar e falta de medo de humanos.

Era caçado como alimento por baleeiros sua carne era usada como isca na pesca do bacalhau e da lagosta.

A exploração do arau-gigante colocou a espécie em perigo de extinção entre os séculos XVIII e XIX. Porém, a mentalidade da época tinha uma perspectiva diferente sobre como abordar uma espécie ameaçada. No auge do entusiasmo com o naturalismo, os ovos e exemplares de arau-gigante tornaram-se um item muito apreciado por colecionadores, o que aumentou ainda mais a pressão sobre as suas populações. O último casal foi caçado em Julho de 1844 enquanto chocava um ovo, numa ilha ao largo da Islândia.

Restam cerca de 80 ovos e outros tantos exemplares taxidermizados em museus e coleções particulares.

sábado, 2 de maio de 2009

"Elo perdido" explica evolução das focas


RICARDO BONALUME NETO

da Folha de S.Paulo


Um fóssil achado no Canadá é um bicho tão original que merece ser descrito pelo mais velho e surrado clichê da evolução biológica: trata-se do "elo perdido" entre mamíferos aquáticos como focas e morsas e seus ancestrais terrestres.
Os mamíferos conhecidos como pinípedes têm nadadeiras que facilitam a natação, mas tornam sua movimentação em terra pouco eficiente. O fóssil de 23 milhões de anos batizado Puijila darwini tem membros robustos para andar, mas seus ossos indicam que haveria membranas entre os dedos semelhantes às de uma ave aquática, um tipo de "pé-de-pato".

Antes dessa descoberta, o pinípede considerado o mais antigo era o Enaliarctos, achado na costa noroeste da América do Norte, e dotado de nadadeiras. O Puijila está descrito em estudo na edição de hoje da revista "Nature", liderado por Natalia Rybczynski, do Museu Canadense da Natureza.

O nome Puijila darwini homenageia o naturalista Charles Darwin, pai da teoria da evolução, que previu a existência de uma forma de transição entre esses animais. Puijila é a palavra para "pequeno mamífero marinho" na língua dos esquimós da região do achado.

Os primeiros vestígios do mamífero foram achados em 2007 num lago criado na cratera do impacto de um meteoro. Uma expedição em 2008 achou mais pedaços. Ao todo, 65% do esqueleto foi desvendado.

A região do Ártico é considerada a área de origem dos pinípedes. Há 23 milhões de anos o clima era ameno como o de uma região temperada. Vivendo primeiro em lagos de água doce, os animais foram se adaptando à vida aquática a ponto de passar a caçar no mar. O achado dá uma visão de como seriam os pinípedes antes de passarem a ter nadadeiras, segundo Rybczynski, que chefiou a expedição de campo.

O fóssil retém uma longa cauda e membros com proporções mais semelhantes às de carnívoros terrestres do que dos pinípedes atuais. Mas alguns ossos indicam que ele levava uma vida semiaquática.

A passagem da terra para o mar aconteceu diversas vezes entre os mamíferos, indicam as lontras, o peixe-boi-marinho, as baleias e os golfinhos.

"Essa transição é caracterizada por inovações associadas com muitos aspectos da vida, incluindo locomoção, alimentação e reprodução. O registro fóssil tem documentado os primeiros estágios de algumas dessas transformações, com mais sucesso no caso das baleias a partir de artiodáctilos terrestres", escreveram os autores. Artiodáctilos são mamíferos ungulados (com casco) e com número par de dedos nas patas, como o boi e o camelo.

Em 2007, o "elo perdido" das baleias foi identificado como um pequeno artiodáctilo fóssil, o Indohyus, achado na Índia. Mas só agora, com a descoberta do fóssil canadense, é que a primitiva evolução dos pinípedes passa a ser melhor conhecida.

O sítio paleontológico no Canadá tem ainda peixes, aves e outros fósseis, como coelhos, rinocerontes e os ancestrais das modernas girafas e veados.


quarta-feira, 29 de abril de 2009

Pombo-passageiro


O pombo passageiro vivia na América do Norte, provavelmente a ave mais abundante no século 17. Estima-se que havia até 5 bilhões de pássaros somente nos EUA.
O maior bando conhecido tinha quase 2 bilhões de aves, que voando ocupavam um espaço de 1,6 km de largura por 500 quilômetros de comprimento. Sua passagem por uma cidade levava dias seguidos.

O pombo passageiro começou a ser caçado pelo homem como alimento. Depois se descobriu que poderia ser usado em ração para porcos e até como fertilizante.
Nos séculos 17 e 18, sua carne aparecia em quase todas as refeições dos escravos. Em 1805, um par de pombos passageiros custava 2 centavos de dólar em Nova York.
Em 1850 notaram que o número de pombos havia caído drasticamente. As fêmeas botavam apenas um ovo por vez e seriam necessários alguns anos para a população se recuperar, mas não deu tempo.
Acredita-se que todos os pássaros do último grupo tenham sido mortos em um único dia, em 1896, quando aproximadamente 250 mil indivíduos foram abatidos numa caçada esportiva. Em 1900, um garoto de Ohio matou o último exemplar selvagem.

Restou apenas um pombo passageiro em cativeiro, uma fêmea chamada Martha, que morreu no zoológico de Cincinnati, Ohio, em 1914. Seu corpo conservado está em exposição no Museu Nacional de História Natural em Washington.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Camarão-pistola

O camarão-pistola é um dos seres vivos mais interessantes que existem. O crustáceo vive em águas tropicais profundas e tem uma arma de ataque única: uma garra assimétrica, que ao ser fechada, produz uma pequena bolha que ao estoura gerando uma explosão com temperatura próxima a da superfície do Sol. A pressão gerada pode matar pequenos peixes e invertebrados.

A pequena explosão gera grande barulho, tanto que os vários estouros produzidos por uma colônia de camarões-pistola no fundo do mar podem ser usadas por submarinos par se esconderem do sonar inimigo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

peixe-olhos-de-barril

POR EDUARDO REAL

Pesquisadores do MBARI (Monterrey Bay Aquarium Research Institute) realizaram uma expedição submarina e conseguiram observar, a 600 metros de profundidade e entre os seres das profundezas observados estava o peixe Macropinna microstoma; uma espécie abissal (que vive em águas profundas) e que possui peculiares olhos tubulares.

O Macropinna microstoma já é conhecido desde o final da década de 30, e peixes com olhos tubulares não são uma novidade para a ciência, existindo outras espécies conhecidas com essa características, pertencentes a familia Opisthoproctidae, mas a nova pesquisa resolveu um mistério que durava anos.

Os únicos Macropinna vistos eram exemplares que ficaram presos em redes de pesca, e todos tiveram a membrana que cobria seus olhos colapsada durante a captura. O MBARI fez os primeiros registros de um exemplar da espécie vivo e foi possível observar que a membrana forma um escudo transparente em torno dos olhos, sendo preenchida com liquido gelatinoso.

E outra novidade foi quanto aos olhos. Olhos tubulares são ótimos para captar luz sem aumentar muito o tamanho do órgão. Adaptação ideal para um ambiente como aquele, onde chega pouca luz solar. Com eles, é possível enxergar muito bem as silhuetas dos outros animais marinhos. Olhando a foto, você pode pensar que eles são os dois circulos acima da boca, mas as duas estruturas circulares que são as narinas, os olhos são as estruturas verdes dentro da membrana transparente. E como os olhos deste peixe são voltados para cima, permitem que ele se aproxime furtivamente de sua presa por baixo, porém não seria possível ver o que está a sua frente e nem o que se está comendo, tendo um campo de visão muito limitado.

Entretanto, os pesquisadores observaram que o Macroppina microstoma pode girar seus olhos para a frente, tudo foi registrado por câmeras no fundo do oceano e depois em indivíduos capturados vivos e mantidos em um aquário a bordo de um navio.

Os peixe-olhos-de-barril assim conseguem localizar suas presas em todas as direções. Sua principal fonte de alimento são as águas-vivas, abundantes neste habitat, onde o pigmento verde de seus olhos ajudam a detectar a bioluminescencia desses animais em meio a escuridão oceanica. Um dos tipos mais comuns são os sifonóforos, hidrozoários coloniais que formam uma rede com mais de 10 metros para capturar pequenos animais usando seus tentáculos urticantes. O M. microstoma conseguiria roubar os seres presos nas redes, usando sua grande barbatana lateral para manobrar com precisão por entre os filamentos urticantes e a cúpula revestda de liquido protegeria seus delicados orgãos oculares. No estômago dos peixes capturados haviam pedaços desses animais.

Descobertas como essa, mostram como que a biologia ainda guarda grandes surpresas.

http://www.mbari.org/news/news_releases/2009/barreleye/barreleye.html

http://scienceblogs.com.br/brontossauros/2009/02/explicando-o-peixe-de-cabeca-transparente.php

domingo, 29 de março de 2009

Cormorão-de-lunetas

O cormorão-de-Steller ou cormorão-de-lunetas (Plalacrocorax perspicillatus) era uma ave da família dos cormorões que habitava as ilhas do Mar de Bering. Foi descrita pelo naturalista alemão George Steller em 1741, na mesma expedição em que houve o primeiro registro visual do dugongo-de-steller.

O cormorão-de-lunetas media cerca de 1 metro de comprimento, sendo o maior dos cormorões. A plumagem era verde escura, com tons metálicos azulados e uma mancha branca nos flancos. Os machos não tinham penas em torno dos olhos, onde a pele de cor branca parecia descrever um par de lunetas. Outro dimorfismo sexual era a presença, nos machos, de uma crista dupla de penas verde-azuladas, decorada com penas mais finas e longas de cor amarelada que se espalhavam na cabeça e no pescoço. Além disso, as fêmeas eram menores. Suas asas eram bastante reduzidas – com apenas 30 centímetros de comprimento – e assim o cormorão quase não voava. A ave passava a maior parte do tempo na água, não possuía predadores naturais nas ilhas onde se reproduzia.

Por conseqüência, sua falta de agilidade em terra fazia dele presa fácil para os primeiros homens que visitaram o estreito de Bering. Steller, que o descreveu como um pássaro grande, desajeitado e que quase não voava, afirmou que sua carne era deliciosa e que um pássaro era o suficiente para alimentar três homens.

Como o Ártico era uma próspera área baleeira e havia grandes populações de raposas e outros animais de pele valiosa, um fluxo maciço de baleeiros e comerciantes de pele aconteceu na região. As aves eram uma fonte prática de alimento, portanto foram caçados por causa de sua carne. Com uma distribuição bastante reduzida, o cormorão de lunetas não resistiu e foi extinto em 1850.

Pouco se sabe sobre o seu comportamento, apenas que ele se alimentava de peixe.

Com o sucesso científico da expedição, a expedição de Georg Steller retornou a Rússia, mas sofreu um naufrágio na viagem de regresso, a tripulação ficou presa em uma ilha e muitos morreram de frio e escorbuto. Após o inverno, os homens construíram um novo navio e retomaram o caminho de casa. Mas Georg Steller morreu em Tyumen, antes de chegar a Rússia. Sua obra foi publicada após sua morte.

domingo, 15 de março de 2009

Árvore Água-Viva




Esta espécie vegetal mostrada aqui no Evolução e biologia é a árvore água-viva (Medusagyne oppositifolia) a única espécie da familia Medusagynaceae. Vive na ilha de Mahé, no arquipélago de Seychelles e chega a até 10 metros de altura, apresentando uma arredondada copa de uma folhagem verde brilhante que fica vermelha com a idade. Suas pequenas flores brancas possuem vários estames que dão o formato que dá nome ao fruto, após seco ele é levado pelo vento como um pequeno para-quedas. É uma planta rara que foi considerada extinta até a década de 70, quando descobriram 4 árvores, mas a espécie continua severamente ameaçada. Porém, ao contrário da grande maioria das espécies em risco, o declínio da árvore água-viva não ocorreu por ação antrópica. A espécie só é encontradas em condições muito úmidas. Mudanças climáticas tornaram o ambiente da ilha mais seco. Pesquisadores só conseguiram sua reprodução fora do ambiente natural em extrema umidade. E nem se encontra indivíduos jovens pelas matas de Mahé. São conhecidas apenas 50 árvores restantes, como a da foto, vinda do Jardim Botânico de Kew.

sábado, 7 de março de 2009

Pesquisadores descobrem nova espécie de água-viva


Um grupo de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) descobriu uma nova espécie de água-viva, a Hydrocoryne iemanja - nome dado em homenagem a Iemanjá, orixá do candomblé. A descoberta deu origem a um trabalho científico publicado este ano no Reino Unido.
A espécie foi observada pela primeira vez em agosto de 2005. A água-viva crescia dentro de um aquário, afixada a uma alga retirada da orla marítima de Guarapari (ES).
Segundo o pesquisador Sérgio Stampar, um dos autores do estudo, o que diferencia a Hydrocoryne iemanja de outras águas-vivas é seu modo atípico de reprodução assexuada, pela divisão longitudinal - quando um corpo se divide em duas partes.
"A singularidade deste processo mostra que a descoberta pode ajudar no entendimento do caminho evolutivo destes seres aquáticos", explicou Stampar.
O estudo, também desenvolvido pelos pesquisadores André Morandini, Álvaro Migotto e Antonio Marques, foi publicado pelo Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom.


O artigo científico pode ser visto aqui

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O bicentenário de Charles Darwin

POR EDUARDO REAL

Em 1835, Charles Darwin estava nas ilhas Galápagos, durante uma parada do HMS Beagle em sua expedição geográfica pela América do Sul. Em terra, o cientista britânico explorou a biodiversidade das ilhas vulcânica. Iguanas-marinhas que com sua cor pareciam rochas que ganharam vida. No interior, viu os jabutis-de-Galápagos, lentos e pesados, que mais pareciam um autoretrato vivo da ilha. E um grupo variado de pássaros que ficaria ligado ao seu nome para sempre. A estadia durou apenas seis semanas, muito pouco se comparado aos cinco anos de viagem a bordo do Beagle, mas revolucionou a ciência. A expedição, está sendo muito relembrada agora, com a comemoração dos 200 anos de nascimento de Darwin e dos 150 anos da teoria da evolução.

Charles Robert Darwin nasceu em 12 de Fevereiro de 1809, em Shrewsbury. Filho do médico Robert Darwin, veio de uma familia abastada e alimentava o interesse pelo mundo natural desde a infância, quando coletava insetos e ovos de pássaros. Na juventude, foi para a faculdade de medicina, seguindo os mesmos passos do pai. Porém, a brutalidade dos procedimentos médicos da época fez com que ele abandonasse o curso. Então, entrou na faculdade de teologia formando-se teólogo. Mesmo assim, mantinha a paixão pela biologia, vinda desde o tempo em que colecionava besouros. Assim Darwin entrou no curso de ciências naturais, onde estudou biologia e geologia e conheceu John Steves Heslow, que se tornou seu mentor e o recomendou como acompanhante do capitão Robert FitzRoy, em sua expedição a bordo do HMS Beagle que mapearia a costa da América do Sul.

Partindo da Inglaterra, o navio cruzou o Atlantico, passando por Cabo Verde e chegando ao Brasil, onde teve seu primeiro contato com a floresta tropical. Passando depois pela Argentina e pelos Chile, sempre coletando animais, plantas e fósseis, enviando-os a Inglaterra. Durante a viagem, leu dois livros que o influenciariam muito, "Princípios da Geologia" de Charles Lyell, ao qual dizia que a paisagem terrestre não é imutável, sendo moldada por diferentes mecanismos geológicos. Quando estava escavando Andes, encontrou conchas de moluscos marítimos no alto de uma montanha. Darwin constatou que no passado aquela região já havia sido coberta pelo mar e, posteriormente, havia se elevado. Era uma evidência que reforçava as idéias de Lyell.

Então a expedição partiu do continente, chegando até as Galápagos. Lá, observou a fauna, com animais totalmente diferentes das que havia visto. E entre as espécies capturadas estavam algumas corruíras. Ele notou que elas se diferenciavam de uma ilha para outra e se lembrou do que haviam dito sobre as tartarugas do arquipélago: que era possível saber de qual ilha era cada uma, apenas pelo formato do casco. Chegou a conclusão de que as espécies, assim como a formação geologica, se modificavam ao longo do tempo. Então depois de passar pelas ilhas do Pacífico, Austrália e pela África, chegou a Inglaterra em 2 de Outubro de 1936. No seu retorno, Darwin já era uma celebridade no meio científico, graças aos exemplares e anotações mandados durante a viagem. Durante esse tempo, seu pai fez investimentos lhe garantindo uma boa renda sem que precisasse trabalhar. Assim, tinha tempo integral para se dedicar a sua carreira de naturalista.

Então, sem perder tempo, começou a trabalhar em sua teoria. A sua viagem havia lhe dado um material de pesquisa riquíssimo e começou a estudá-la. Só então percebeu que os tentilhões de Galápagos variavam de forma, de uma ilha para ilha, apresentando bicos adaptados para diferentes tipos de alimento. Também analisou melhor os jabutis-de-Galápagos vendo seus o casco diferentes. Darwin constatou que todos os tentilhões, se originaram de um ancestral vindo do continente e que se espalhara pelo arquipélago, sendo selecionados pelo ambiente. E todos os seres vivos seriam descendentes de um único ancestral, incluindo nossa espécie.

E na época, havia lido o livro "Princípios da População" de Thomas Malthus, que afirmava que a população crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética e no futuro não haveria recursos disponíveis para todos, gerando uma intensa competição. Darwin percebeu que o mesmo acontecia na natureza, os seres vivos tinham uma descendencia muito grande, mas poucos deles sobreviviam pois não havia recursos para todos, existindo uma competição entre eles e os indivíduos que tivessem características que lhe dessem vantagem, aumentaria suas chances de sobrevivencia e deixaria mais descendentes. Seria esse o mecanismo responsável pela origem de todos os seres vivos

Esses anos foram intensos. Encontrou-se com naturalistas, analisou coleções científicas, leu vários artigos e publicou livros. Ao mesmo tempo que pesquisava a criação de animais domésticos e culturas agrícolas. Havia notado a grande variedade de formas que elas possuíam e viu ali um meio de como entender o processo que ocorria na natureza. Ele mesmo se tornou um ávido criador de pombos. Durante todo esse período, Darwin se casou com sua prima Emma Wedwood e nasciam os seus primeiros filhos e enquanto continuava suas pesquisas e constituía família, o seu estado de saúde piorava. Havia contraído uma doença ainda durante sua viagem a América do Sul e o acompanharia até sua morte. Em 1958, recebeu uma carta de um jovem naturalista chamado Alfred Russel Wallace que apresentava uma teoria muito semelhante a sua. Então, decidiu publicá-la junto de seu trabalho, tendo Wallace como co-autor. E, em 24 de Novembro 1859, era publicado o A Origem das Espécies; que trazia todo os seus últimos 20 anos de trabalho.

Todos os 1250 exemplares, desapareceram das livrarias no mesmo dia. A teoria apresentada causou repercussão. Mas a controvérsia ultrapassou o ambiente acadêmico. A proposta de que os seres vivos se originaram unicamente por processos naturais era contrária a visão religiosa baseada no relato bíblico da criação, disseminando o debate ao público. Os amigos de Darwin levaram a discussão ao meio científico e defenderam a teoria dos ataques religiosos.

O próprio Darwin, manteve-se longe da polêmica, não se envolvendo nas discussões, nem comentado a respeito da origem humana. Entretanto, trataria do assunto uma década depois no livro "A Origem do Homem e Seleção em relação ao Sexo". Onde afirmou que nossos ancestrais seriam semelhantes aos primatas atuais. Ele ainda escreveu outros livros e, no fim da vida, realizaria trabalhos sobre a polinização de orquídeas e continuaria a escrever; trabalhando ativamente até a sua morte, em 19 de abril de 1882. Sendo enterrado na abadia de Westminster, junto de Isaac Newton e Charles Lyell.

Após o lançamento de o "A Origem das Espécies", boa parte dos cientistas aceitou os argumentos sobre a evolução dos seres vivos, mas rejeitou a seleção natural como meio que promovia a mudança. Darwin não havia proposto um mecanismo de herança que explicasse como as características passavam entre as gerações. E durante alguns anos a teoria proposta ficou em segundo plano, até o começo do século XX, quando o trabalho do monge austríaco Gregor Mendel foi aceito, dando a teoria as leis de hereditariedade que explicavam a passagem dos caracteres de uma geração para outra; possibilitando a comprovação empírica da seleção natural. Nessa época, cientistas como John Fisher, H B S Haldane e Seal Wright apresentaram seus trabalhos sobre genética das populações. Teodosius Dobzhansky realizava suas experiências com as moscas Drosophilas. Ernest Mayr concebia o conceito biológico de espécie. E George Gaylord Simpsom desenterrava descendencia do cavalo. Esses e outros, conseguiram dar uma base sólida a teoria proposta por Darwin.

Chegando aos tempos atuais, com ainda mais evidências acumuladas ao seu favor. A descoberta do DNA possibilitou saber a semelhança genética entre as espécies, os avanços na biologia molecular tornaram possível a comparação bioquímica entre os diferentes seres vivos. E os mais diversos fósseis transicionais encontrados permitem saber como ocorreu a diversificação de vários grupos.

Charles Darwin teve toda sua vida marcada pelo estudo das formas de vida. Ele observou na natureza as diferenças entre os seres vivos e conseguiu perceber os processos que estavam por trás de toda a biodiversidade. A teoria da evolução pela seleção natural por ele concebida explica como todas as formas de vida surgiram, sendo o princípio unificador da biologia moderna. Ao mesmo tempo, que afastou as explicações metafísicas baseadas na religião do campo da biologia, consolidando-a como ciência. Darwin ainda foi um dos primeiros a fazer anotações a análises sobre animais, plantas caracteristicos de cada ambiente e das relações entre eles, sendo por isso chamado de o pai da ecologia. Também fez trabalhos sobre geologia e descobriu como se formam os atóis. Deixando seu nome entre os grandes da ciência.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dugongo de Steller


Georg Wilherm Steller (1709-1746), foi um naturalista alemão que viveu no século 18. Nascido em Windsheim, se tornando zoologo, botânico e médico pela universidade de Wittemberg, e formando sua carreira acadêmica na Rússia. E de lá partiu na segunda expedição em direção ao Estreito de Bering, em que atuou como naturalista. Partindo de São Petersburgo em 1738, Steller foi ao Alasca, lugar muito pouco explorado e com várias espécies ainda novas para a ciência. Em contato com uma biodiversidade desconhecida, o naturalista catalogou várias espécies, muitas recebendo seu nome como homenagem.

O dugongo-de-Steller (Hydrodamalis gigas), um grande sirenídeo, anteriormente encontrado no Mar de Bering é uma delas. Descoberto em 1741, nas ilhas Copper.

O animal media 7,9 metros de comprimento e pesava cerca de 5 a 11 toneladas, muito maior que as outras espécies de peixe-boi. Era exclusivamente aquático, com uma pele negra e espessa. Tinha a cabeça pequena em relação ao corpo e um pescoço curto, porém flexível que o ajudava a se alimentar. Não tinha dentes, apenas dois ossos achatados localizados acima e o outro abaixo da boca. Também tinham as narinas na ponta do focinho, olhos pequenos e como os outros sirenídeos possuía longas cerdas em torno da boca. De acordo com Steller, eram totalmente inofensivos e alimentavam-se de uma espécie de alga marinha.

També relata que ele nadava muito mal e que era incapaz de mergulhar ou mesmo submergir completamente o seu corpo. Talvez isso é devido ao seu grande tamanho corporal que levou a um aumento do volume dos pulmões, intestinos e da camada de gordura. Assim ele ocupava um nicho único, comendo algas na superficie de águas muito rasas. Anatomistas analisaram suas ossadas e descobriram que as nadadeiras se posicionavam para baixo, dessa forma ele podia "caminhar" no raso. Sua pele grossa completa o protegeria do atrito com as rochas.

Tinham um comportamento social complexo. Era um animal gregário, com bandos que incluíam indivíduos de sexo e idades diferentes, com os filhotes ficando no interior do grupo, para protege-los durante seus deslocamentos. Eram monogâmicos e havia uma relação muito forte entre o casal. Há relatos em que o bando vinha em socorro de companheiros arpoados.

Os grupos eram encontrados em estuários de rios, o que faz especular que eles precisavam beber agua doce.

Quando Steller descreveu a espécie, a população era pequena e ocupava um espaço limitado. Apesar de descrever que viviam em grupos numerosos, o zoólogo Leonard Hess afirmou posteriormente que a época não passavam de 1500 indivíduos. Foram rapidamente extintos por marinheiros, caçadores e comerciantes de peles, sendo usados como fonte de carne e gordura. Aproveitando sua pele e o leite das fêmeas abatidas para fabricarem manteiga.

Paul Anderson argumenta que a caça da lontra-do-mar pode ter sido um agravante. Com sua redução, a população de ouriços-do-mar – sua principal presa – aumentou muito e diminuído a quantidade de algas, a principal fonte de alimento do dugongo-de-Steller. Sendo depois extinto pelo homem, apenas 27 anos após sua descoberta




sábado, 7 de fevereiro de 2009

Lobo negro herdou sua cor de cachorro doméstico, aponta análise genética



A mutação genética que faz o seu cocker spaniel ter a pelagem preta também produz o mesmo efeito em lobos selvagens. Cientistas mostraram agora que os lobos negros da América do Norte devem sua cor a genes originários de cães domesticados.Mais ainda, trata-se de um raro caso em que uma mutação promovida pelo homem, ao retornar a populações selvagens, produz um efeito benéfico. Com a diminuição do habitat de tundra, onde predominam lobos brancos ou cinzentos, aumenta o de floresta --nas quais a maioria dos lobos tem pelo preto.


Os lobos de pelo preto quase só existem na América. A mutação que lhes confere essa cor provavelmente foi passada às populações de lobos por cruzamentos com cães domésticos (Canis lupus familiaris) trazidos pelos ancestrais dos índios, entre 15.000 e 10.000 anos atrás.A equipe de 15 cientistas, coordenada por Gregory Barsh e Tovi Anderson, da Universidade Stanford, Califórnia, publicou o estudo na edição de hoje do periódico científico "Science".O gene é dominante; basta uma cópia dele para produzir a cor negra. O cruzamento de lobos das duas cores, cinza e negra, produziu uma ninhada de 14 filhotes, dos quais dez tinham o gene e o pelo preto.Não há certeza ainda entre os cientistas do motivo de a mutação ser benéfica aos lobos. Pode ser uma questão de camuflagem, a cor escura melhor adaptada à floresta do que à nevada tundra. Mas o gene responsável pela cor negra do pelo, beta-defensina, também está envolvido na defesa contra infecções."Nossos resultados implicam em que variantes que apareçam durante a domesticação podem ser viáveis na vida selvagem e enriquecer o legado genético de populações naturais", dizem os autores.










sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Escavação acha registro mais antigo de vida animal na Terra

Moléculas mostram presença de esponjas há mais de 635 milhões de anos.Achado sugere que evolução dos animais teve começo 'lento e gradual'.


No princípio era a esponja. Bem, não exatamente no princípio, mas pelo menos há mais de 635 milhões de anos, quando a vida animal começava a evoluir nos oceanos do nosso planeta, e as esponjas, invertebrados muito simples que mais parecem plantas, já se agarravam ao leito marinho. Usando técnicas químicas engenhosas, pesquisadores dos Estados Unidos, da Austrália e do Reino Unido dizem ter comprovado a presença dos bichos nessa época remota. O achado tem potencial para fazer recuar a origem dos animais em até 100 milhões de anos.


O que, aliás, é bastante tranquilizador para os estudiosos da evolução, porque havia uma certa incongruência entre os fósseis, as análises de DNA e as datas estimadas para a origem dos animais. Para todos os efeitos, até pouco tempo atrás o nosso grupo de seres vivos parecia ter surgido "de repente" há cerca de 600 milhões de anos. Problema número 1: em tese, nada tão complexo quanto os primeiros animais poderia aparecer sem um tempo considerável de evolução prévia. Problema número 2: as estimativas feitas com a ajuda do DNA dizem que, de fato, os animais são bem mais antigos do que isso.

O coordenador do novo estudo sobre as esponjas, Gordon D. Love, da Universidade da Califórnia em Riverside e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), diz que seu trabalho traz evidências sólidas da antiguidade dos animais. "Nossas datas ficam, sem margem para incerteza, entre 635 milhões e 750 milhões de anos", declarou ele ao G1 por e-mail.

Paradoxalmente, apesar do alto grau de confiabilidade da análise, o número total de esponjas fósseis que a equipe encontrou foi... zero. A descoberta foi totalmente indireta. As rochas estudadas por Love e companhia em Omã, no sul da Arábia, estão empapadas com moléculas orgânicas, derivadas dos seres vivos (a maioria de uma só célula) que existiam durante a era glacial que afetava o planeta naquela época. Foi graças a essas moléculas que eles conseguiram detectar as esponjas no local. O truque para garantir a precisão das datações foi usar pedaços insolúveis e "duros" de matéria orgânica nos sedimentos. Dessa forma, eles não poderiam migrar ao longo das camadas de rocha, o que significa que correspondem mesmo à época indicada pelos estratos rochosos.

Parece maluco que substâncias de seres vivos resistam por tanto tempo, mas o fenômeno não é tão incomum assim, de acordo com Love. "Os lipídios [moléculas de gordura] são recalcitrantes [resistentes à degração] ao longo das centenas de milhões de anos do tempo geológico, mas sobrevivem melhor e em abundância quando há muita produtividade primária [produção de biomassa] e quando o oxigênio não é muito abundante em águas profundas. Já o DNA e as proteínas normalmente se degradam após alguns milhões de anos", diz ele.


Colesterol
De todos os lipídios, o que acabou sendo mais interessante para a análise foi o que recebe o indigesto nome de 24-isopropilcolestano, uma forma alterada do 24-isopropilcolesterol. Colesterol? Sim, você ouviu direito: trata-se de uma molécula aparentada à que existe no organismo humano, provavelmente com a mesma origem evolutiva. "Essa família de moléculas é encontrada na membrana das células das esponjas", explica Love. O detalhe é que o 24-isopropilcolesterol seria exclusivo de um subgrupo de esponjas, o que comprovaria a existência delas naquele período remoto.

Em artigo opinativo na britânica "Nature", mesma revista científica onde os resultados foram publicados, Jochen Brocks, da Universidade Nacional Australiana, e Nicholas J. Butterfield, da Universidade de Cambridge, aplaudem as descobertas, mas lançam dúvidas justamente sobre a identificação dos produtores das moléculas. Para eles, é concebível que seres mais primitivos, talvez até unicelulares, tenham "iniciado" a produção de 24-isopropilcolesterol, característica depois herdada pelas esponjas "descendentes". Nesse caso, não daria para dizer que a vida animal realmente começou há 700 milhões de anos.

Love rebate: "Décadas de estudos cuidadosos com micróbios e metazoários [animais] nos dizem que essas substâncias só são abundantes nas demoesponjas [subgrupo das esponjas]. Todos os subgrupos delas os possuem em abundância. Além disso, a abundância das moléculas só ocorre justamente numa janela relativamente estreita de tempo na qual, segundo dados fósseis e de DNA, as esponjas deveriam aparecer. Então, colocando tudo isso junto, nossa interpretação é a única razoável no momento". É esperar para ver quem se sai melhor no debate.
Texto de Reginaldo José Lopes
Para saber mais: Texto de Alexander Kellner no Ciencia Hoje On line

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

SELO DE QUALIDADE

O Evolução e biologia recebeu um selo de qualidade, presente dado por Diego Marques e Ravick Bittencourt do ótimo blog Os Amorais!



Assim, seguindo as regras que o acompanham, repassamos a três blogs merecedores do prêmio:

O Dragão da Garagem: blog sobre ceticismo e pensamento crítico. Faz uma análise cética sobre Religiões, pseudociencias e pensamento new age e divulga a ciência. De autoria de Alexandre Taschetto e Widson Porto Reis, o título faz uma referencia a um texto clássico de Carl Sagan.

Biofácil: Como o próprio nome diz, o blog biofácil trata sobre biologia de uma forma simples de entender, possuindo ótimo conteúdo e uma videoteca com bons videos.

O Surfista Platinado : Blog que narra as aventuras do Surfista Platinado, um herói intergalático que conta as historias do cotidiano de uma forma bem humorada e em clima de uma conversa de barzinho. Com a participação de Papai Smurf e do homem mais fort do universo!

Agora, seguindo as recomendações postadas lá no Amorais, seguem as REGRAS (não fui eu que as inventei, apenas as estou seguindo) para quem recebe um selo:

> Fazer um post com a imagem do selo e postar o link de quem te presenteou.

> Se quiser pode repassá-lo. Neste caso deve:

>Postar os links dos blogs escolhidos para recebê-lo e avisar esses blogs.

>Postar as regras para que os outros também saibam o que fazer depois que receber.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A ilha de Páscoa


A ilha de Páscoa está localizada no sul do Pacífico, em um local esquecido no meio do mar. É o lugar mais isolado da Terra, estando a quase 2000 km das Ilhas Pitcairn e a 3200 km do Chile.

Foi avistada pelos europeus em um domingo de Páscoa, em 1722, pelo holandês Jacob Roggeveen. Avistando um lugar nada atrativo, ao contrário da maioria das ilhas daquela parte do mundo, o terreno não tinha grandes árvores e a grama era tão seca que, a distância, parecia areia. Foram recebidos por uma comitiva de nativos em canoas frágeis e ao desembarcar ficaram surpreendidos com os grandes moais, as gigantescas estátuas de pedra esculpida na forma de rostos humanos, espalhadas pelo litoral, como se vigiassem o alto-mar. Roggeveen e seus homens ficaram muito espantados, pois não compreendiam como os nativos que não dispunham de cordas fortes e madeira adequada para fazerem maquinas conseguiram erguer aqueles gigantes de mais de 10 metros de altura.

No interior da ilha, dentro da cratera de um vulcão extinto, onde as estátuas eram esculpidas, o ambiente era fantasmagórico. As ferramentas dos escultores espalhadas pelo chão, estátuas inacabadas e outras largadas para trás pela estrada que leva ao litoral, davam a impressão de que o lugar havia sido abandonado.

Ainda hoje, a ilha é cercada por uma nuvem de mistério, como as gigantescas figuras de pedra foram levadas da montanha até o mar desperta a curiosidade. Inspirando as explicações das mais incomuns como a de que extraterrestres levaram os moais até os seus locais de repouso. Versão que foi popularizada pelo livro “Eram os Deuses Astronautas?” de Erich von Däniken. A chave do mistério é revelada ao voltarmos à época da chegada dos primeiros polinésios, a cerca de 1400 anos. Vindos do oeste, os rapanui encontraram um pequeno paraíso. Eram 166 quilômetros quadrados cobertos por uma densa floresta subtropical que crescia sobre o fértil solo de origem vulcânica. Entre a vegetação nativa, a planta que mais se destacava era a Paschalococos disperta uma espécie de palmeira alta e robusta endêmica do local. Tinha madeira forte o suficiente para permitir a construção de embarcações e para o transporte dos moais e fornecia nozes para a alimentação.

A fauna local permitia uma dieta muito rica para os moradores. Carne de golfinho, de foca e de 25 tipos de aves selvagens que eram assados com a lenha retirada da floresta. É o que mostram escavações arqueológicas em antigos sítios ocupados, graças a essa biodiversidade o número de habitantes aumentou bastante.

Boa parte dos recursos locais eram gastos na intensa produção e no transporte de estátuas. Para movê-las dezenas de pessoas utilizavam cordas e uma espécie de trenó feito de palmeiras arrastavam os moais por 14 quilômetros até o litoral. A partir de 1200, a produção entrou em um ritmo mais acelerado e que durou pelos próximos 300 anos, sendo preciso cada vez mais madeira, cordas e alimentos. Por volta de 1400, a floresta já não existia e a última palmeira foi cortada, extinta junto com outras 21 espécies de plantas nativas. Assim, não havia mais madeira e cordas para o transporte de moais e nem troncos resistentes para a construção de barcos para a pesca em alto-mar, assim a pesca diminuiu. As colheitas também foram prejudicadas com o desmatamento e com o habitat devastado todas as espécies de aves foram extintas.

Todos esses fatores causaram uma grave falta de alimentos e o número de habitantes foi reduzido a um décimo dos 20 mil que habitaram a ilha no seu auge. E sem comida, os rapanui apelaram para o canibalismo. Em vez de ossos de pássaros ou de golfinhos, passou-se a encontrar ossos humanos nas escavações de moradias desse período. Muitos deles foram quebrados para se extrair o tutano.

O ecocídio cometido pelos nativos serve como exemplo do que pode acontecer quando o meio ambiente é explorado até o limite e o seu equilíbrio é afetado, a civilização que depende de seus recursos é levada ao colapso. E serve de lição para nossa geração, que vê as conseqüências do crescimento econômico aumentarem cada vez mais. Esse é um tipo de tragédia que ocorreu naquela pequena ilha e que tem os moais como únicas testemunhas.

Referências:

Wikipédia
Revista SUPERINTERESSANTE

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Encontrado nos EUA elo perdido na evolução das rãs


Adicionar imagemFóssil de animal que viveu no Texas há milhares de anos comprova ligação entre rãs e salamandras


MADRI - O fóssil de um anfíbio que viveu há milhões de anos no Texas, Estados Unidos, é o elo perdido que demonstra que as rãs e as salamandras descendem dos temnospôndilos, uma espécie extinta, segundo um estudo da Universidade de Calgary, do Canadá.

O exame e a descrição detalhada do fóssil do Gerobatrachus hottoni (rã maior de Hotton) colocam fim à principal polêmica sobre a evolução dos vertebrados, que se devia à falta de informação sobre formas de transição conhecidas.

"Este fóssil preenche esse vazio", diz Jason Anderson, professor da Faculdade de Veterinária da Universidade de Calgary e autor principal do estudo, publicado na última edição da revista científica britânica Nature.

Anderson qualificou de "agridoce" a coincidência da descoberta com o "Ano dos Rãs", convocado em 2008 pelos conservacionistas para alertar o mundo sobre desaparecimento de muitas espécies de rãs e outros anfíbios.

Calcula-se que nas últimas décadas podem ter desaparecido 130 espécies devido à mudança climática, à poluição e aos efeitos mortais de um fungo quitrídio, que se alimenta da queratina da pele das rãs.

O fóssil, descoberto em 1995 no Texas, mas recuperado recentemente pela equipe de Anderson, tem a forma arcaica de um temnospôndilo, mas também traços das salamandras, rãs e sapos atuais. Isso permite compreender melhor a origem e a evolução dos anfíbios modernos.

Seu crânio, sua coluna e seus dentes mostram uma mistura de traços de rã - a larga forma do crânio - e salamandra - a fusão de dois ossos no tornozelo -, afirma o estudo.

O número de vértebras do fóssil é exatamente um intermediário entre a coluna das modernas rãs e salamandras e os anfíbios mais primitivos.

O fóssil, que data do período Permiano, há cerca de 250 milhões de anos e antes do aparecimento dos dinossauros, também esclarece outra controvérsia relativa à época na qual ambas as espécies evoluíram em dois grupos diferentes, assinala o estudo.

Com estes novos dados, tudo parece indicar que "as rãs e salamandras se separaram em algum momento há entre 240 e 275 milhões de anos, ou seja, muito antes do que sugeriam anteriores dados moleculares", segundo o co-autor do estudo, Robert Reisz, professor da Universidade de Toronto Mississauga.