terça-feira, 8 de junho de 2010

O cão-lobo

Um híbrido é um animal resultado de um cruzamento entre dois individuos de espécies diferentes. Existem diversos casos de híbridos registrados, um dos mais conhecidos por nós é a mula, resultado do cruzamento entre um jumento e uma égua. Vários outros (pouco conhecidos) são vistos na natureza e em jardins zoológicos.

Um deles é o cão-lobo; cruzamento entre o cão doméstico e o lobo-selvagem. Provavelmente, os primeiros destes híbridos podem ter ocorrido ainda na antiguidade, quando os primeiros cães ainda estavam sendo domesticados. Porém, o primeiro caso registrado ocorreu apenas em 1766, na Grã-Bretanha, onde uma cadela-da-Pomerânia deu a luz a nove filhotes, após acasalar com um lobo-cinzento. Nobres costumavam comprar os filhotes e jardins zoológicos e coleções científicas os exibiam.

O acasalamento entre o cão e seu ancestral selvagem, ocorriam eventualmente, com pai e mãe de ambos os lados. Uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia, revelou que os lobos de pelo negro, devem sua cor a uma mutação que ocorreu em cães-domésticos; e que, por hibridação, se espalhou pela população selvagem.

Como os cães-lobos conseguem gerar descendentes férteis, muitos sugerem que cão e lobo são, na verdade, da mesma espécie. Tanto que o cachorro, antes conhecido pelo nome científico Canis familiaris, agora é chamado de Canis lupus familiares. É considerado agora uma subespécie. Não só ele, como todos os animais domésticos como gatos, porcos e carneiros também são classificadas.

Os cães-lobo não possuem caracteristicas físicas definidas, variando muito conforme o físico de seus pais. O seu comportamento também não pode ser determinado com precisão como nas raças caninas. Contudo, eles possuem a chamada aptidão do híbrido, tendo estatura maior que a de seus pais, maior resistência em corridas, caninos maiores que o normal e olfato muito apurado. Também são menos atingidos por doenças genéticas.

Na década de 20, o holandês Leendert Saarloos cruzou um pastor alemão com uma loba européia e após outros cruzamentos sucessivos ele obteve a primeira raça com descendencia lupina, o Saarlooswolfhond. Na década de 50, o exército tchecoeslovaco, cruzou um pastor-alemão e uma loba-dos-Cárpatos, dando origem ao cão-lobo-Tchecoeslovaco, criado para fazer patrulhas de fronteira. Existem sete raças de cães que descendem de lobos. Os criadores manejaram os cruzamentos afim de adquirirem animais com aparência lupina e comportamento manso. Ao contrário do que se possa imaginar, eles não são agressivos, servindo até como cães-guia de cegos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vacinação contra o H1N1

Ano passado, o vírus da gripe suína iniciou uma epidemia, ao ser transmitido de porcos para seres humanos. E rapidamente se transformou em uma pandemia ao se espalhar por diversos países. Essa foi uma amostra de seu alto poder de contágio. A OMS entrou em alerta, essa cepa do vírus H1N1 era bem diferente das que afetam nossa espécie. Com o aumento do número de casos e de mortos o medo aumentou. As principais vítimas não eram idosos e crianças, tradicionais vitimas do influenza, mas pessoas jovens e saudáveis, em especial mulheres grávidas. A gripe espanhola e outros fantasmas do passado foram lembrados.

Felizmente, os piores rumores não se concretizaram. E, felizmente, desde o final de 2009, foi criada uma vacina contra a epidemia. E agora ela chega ao Brasil, que lançou a campanha de vacinação.

Mas, infelizmente, vem surgindo pessoas e grupos que espalham boatos mentirosos sobre a vacinação, principalmente atravez de correntes de e-mail, recheadas de informações erradas, teorias conspiratórias acompanhadas do apelo do "não se vacine". A maioria das bobagens são sobre os constituintes da vacina. Principalmente sobre o mercúrio e o esqualeno. Abaixo, estão algumas informações que refutam boa parte delas:

Mercúrio - O mercúrio é um metal pesado, que é usado (na forma de timerosal) como conservante nas vacinas, devido ao seu efeito antimicrobiano. O mineral também tem efeitos bioacumulativos e pode afetar o sistema nervoso quando em grande quantidade e, pro isso, os conspiracionistas afirmam que a vacina é tóxica. Porém, a quantidade de mercúrio contida é de 1,25 a 25 μg, muito abaixo do limite de consumo semanal que é de 0,5 mg. Você ingeriria uma quantidade muito maior se consumisse um cação em postas.

Esqualeno - É um tipo de lipídio, encontrado no fígado de tubarões e no azeite de oliva. Na verdade, esse óleo é encontrado em vários seres vivos, incluindo nossa espécie. Em nosso organismo, o esqualeno faz parte do ciclo bioquimico do colesterol e da vitamina D. Está presente no óleo de novas impressões digitais. Nas vacinas, ele tem o papel de adjuvante imunológico, ou seja, aumenta a resposta imunológica, sem ter efeito antígeno. Algo muito útil, pois permite a fabricação de uma quantidade ainda maior de vacina. Mais uma vez, divulgam o relato de que essa substancia é nociva; e de novo, ela não faz sentido. O esqualeno está presente naturalmente no corpo humano, e a dose aplicada é tão pequena que não aumenta consideravelmente a quantidade já presente.

Essas informações falsas não causam um engano inocente. Cada pessoa que não se vacina põe em risco a própria vida e pode transmitir a doença para outras pessoas. Por isso, vacine-se.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O impulso rumo ao óvulo

Muitos acham que todas as etapas de uma viagem tão curta como a que os espermatozóides fazem pelo aparelho reprodutor feminino até o óvulo não guardavam mais segredos. Porém, cientistas da universidade da Califórnia, descobriram o processo bioquímico que dá um impulso extra para os gametas masculinos quando estão prestes a chegar ao óvulo.

O estudo, publicado na revista Cell, mostra o efeito da acidez intracelular no movimento do espermatozóide. A velocidade dessas células depende de seu pH interno. Quanto mais íons de hidrogênio estiverem presentes neles, menor será a movimentação do flagelo. E o nível de acidez externa influencia a quantidade de íons dentro do gameta. Quanto mais ácido (pH baixo) maior a quantidade de prótons no meio intracelular e, portanto, menos movimentação haverá.

No epidídimo, o pH ácido faz com que os gametas fiquem pouco ativos. Já na prostata, eles entram no liquido seminal, que é alcalino, aumentando sua atividade. E quando ocorre a ejaculação no aparelho reprodutor feminino, os milhões de espermatozóides encontram um lugar com pH ainda mais alto. Normalmente o pH vaginal se encontra em torno de 3,5 e 4,2; devido às bactérias anaeróbicas que produzem ácido lático atravez da fermentação. Portanto, esse deveria ser um meio inóspito para as células reprodutivas masculinas. Porém, quando a mulher está em seu período fértil, ela produz um muco que deixa o pH da vagina básico.

A alcalinidade aumenta ainda mais quando eles estão próximos ao óvulo, ficando ainda mais rápidos. Além de mais alcalino, a região próxima ao óvulo tem baixas concentrações de zinco e altas concentrações de anandamida, que estimulam a abertura de canais na cauda do espermatozóides, chamadas Hv1; por onde saem os íons de hidrogênio. Essa bomba de prótons, funciona comoa troca de marcha de um carro, dando velocidade e ajudando-o a penetrar no óvulo. Alguns problemas de fertilidade podem estar no funcionamento anormal desse processo. A descoberta abre caminho para uma cura.

Os biólogos também encontraram relação entre os endocanabinóides e o movimeto dos espermatozóides. A substância está presente no sistema reprodutivo dos dois sexos e também aumentaria sua velocidade. O consumo da maconha, que possui os canabinóides, levaia a uma quantidade anormal da substancia no organismo e faria os gametas se esgotarem antes de chegar ao óvulo, reforçando a sua relação com a infertilidade.


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Textos na gaveta

Muitas vezes, os estudos e outras atividades tomam todo o tempo disponível e você é obrigado a deixar algumas coisas de lado. A agenda ocupada é o motivo de eu não publicar textos com muita frequencia. No arquivo do Evolução e biologia existem vários textos imcompletos que eu não tive tempo de terminar. baixo, vão dois deles que eu publiquei atrasado.

O bicentenário de Charles Darwin. Texto especial, pela ocasião dos 200 anos de nascimento do naturalista inglês e dos 150 anos da teoria da evolução pela seleção natural.









Peixe olhos-de-barril. Texto sobre a descoberta feita pelo MBARI sobre essa espécie de peixe abissal, que revelou muita coisa desconhecida sobre sua morfologia e hábitos.






terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Evolução das Toutinegras

POR EDUARDO REAL



São diversos os impactos ambientais causados pelas atividades humanas. Mas cientistas britânicos observaram um caso peculiar. A vários anos, os ingleses começaram com o hábito de instalar comedouros para pássaros em seus jardins, para enfeitá-los com a presença deles. O costume se popularizou com o tempo, tanto que causou certas conseqüências as populações das aves.

As toutinegras de barrete preto (Sylvia atricapilla), migravam durante o inverno para Espanha, onde se alimentavam de frutos. Porém, uma parte delas, agora passa a estação no sul da Inglaterra. As que se deslocavam mais para o norte, acabavam pousando por lá, mas o alimento era escasso e não permaneciam. Agora com os alimentadores elas ficam por ali mesmo.

Análises de alguns exemplares, mostra que os comedouros podem estar causando uma especiação. Foram notadas diferenças na plumagem, no bico e nas asas. Como a viagem agora é mais curta, essas toutinegras apresentam asas mais arredondadas e os bicos ficaram mais longos para poderem alcançar melhor as sementes. Todas essas modificações aconteceram no intervalo de 50 anos.

Não é o primeiro caso de seleção natural influenciada por nós. O aumento do número de elefantes com presas menores e a diminuição do tamanho médio dos peixes de valor comercial, são alguns exemplos. Causados pela caça pelo marfim e pela pesca em larga escala. O que os diferencia das toutinegras é que o impacto sobre as aves não foi negativo. As ilhas britânicas ficam mais próximas de seus locais de nidificação e os pássaros que vão para lá, não precisam se arriscar sobre os Alpes. Toda essa influencia antrópica resultou em vantagem adaptativa.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Homem de Piltdown

POR EDUARDO REAL

Em 1912, o arqueólogo e geólogo amador Charles Dawson alegou a descoberta de fósseis humanos, na pedreira de Piltdown, Sussex, Inglaterra. O achado consistia em uma mandíbula e a calota craniana, próximos um do outro. A reconstituição mostrou um hominídeo com caixa craniana de tamanho semelhante ao nosso e uma mandíbula robusta com dentes semelhante a de símios. Com a colaboração de Arthur Woodward e Pierre Teilhard, a nova espécie foi anunciada no mesmo ano e recebeu o nome científico de Eoanthropus dawsoni.

O hominídeo descoberto por Dawson, não era o primeiro. Em 1856 - três anos antes da publicação de A Origem das Espécies - encontraram o homem de neandertal. O hominídeo mais próximo de nós. E em 1891, Eugéne Dubois, encontrou o Homo Erectus. O primeiro ancestral direto da linhagem humana.

E então veio o achado de 1912, que foi apresentado como um ancestral humano. Os fósseis até então encontrados possuíam cérebro bem evoluído e mandíbula e dentes diminuídos. Já o exemplar de Dawson, possuia cérebro grande e uma mandíbula primitiva.

Por esse motivo, levantaram a hipótese que o homem de Piltdown era um ancestral mais antigo e suas características pareciam comprovar a hipótese - muito popular entre os cientistas britânicos - de que o cérebro teria evoluído antes da dieta onívora. Calcularam que ele viveu por volta de 500.000 anos atras. O que não veio desacompanhado de certo ceticismo.

Já em 1915, o paleontólogo francês Marcellin Boule concluiu que a mandíbula era de um macaco. Da mesma forma que o zoólogo americano Gerrit Smith Miller. E em 1923, Franz Weidenreich analisou os moldes e concluiu que era o crânio de um humano moderno e uma mandíbula de orangotango.

Porém, no mesmo ano, Dawson anunciou ter descoberto um segundo crânio; também em Piltdown, mas em lugar não revelado. O segundo espécime calou boa parte das críticas e afastou a suspeita de engano. Dawson morreria em 1916, vítima de septicemia. E nenhum outro exemplar seria achado. Em 1920, Teilhard publicou importante artigo sobre o tema.

Mas o castelo de cartas começou a cair lentamente. Em 1920, paleontólogos descobriram os ossos do Australopithecus afarensis. Em 1929, foi a vez do homem de Pequim e em 1934 a do Homo rudolphensis. Assim como outros australopitecus e membros do gênero Homo e foi possível montar a árvore genealógica humana. Ficando claro que o cérebro e a dieta onívora evoluíram conjuntamente. O homem de Piltdown não se encaixava na linhagem. Sua anatomia era totalmente anacrônica. O fóssil perdeu importância e na década de 40 nem era mais listado na descendência do homem.

E em 1953, Page Kenneth Oakley, Sir Wilfrid Edward Le Gross Clark e Joseph Weiner constataram a fraude. Tratava-se de um crânio humano, uma mandíbula de um orangotango e os dentes de um chimpanzé. A datação com isótopos de fluor, revelou que o cranio humano datava da idade média e os ossos de macaco mais recentes. Os ossos foram banhados em uma solução de óxido férrico e ácido crômico para ficarem com o aspecto envelhecido. E os dentes tiveram seus tamanhos reduzidos com o uso de um abrasivo.

O principal suspeito de ser o autor da fraude é Dawson, que anunciou a descoberta dos dois exemplares. Um levantamento de seu acervo pessoal identificou 38 itens que são fraudes evidentes. Sua motivações seriam o ganho de notoriedade e uma bolsa na Real Society. Mas a identidade do falsário até hoje é um mistério e mesmo que fosse o autor existem suspeitas de que ele teria colaboradores. Como Pierre Teilhard, Arthur Woodward e Sir Arthur Keith, também apontado como cumplices ou autores.

Criacionistas frequentemente citam o homem de Piltdown como uma armação feita pelos cientistas para provar que a teoria de Darwin está certa. Ou ainda para levantar suspeitas sobre os demais hominídeos fósseis. Porém, analisando a cronologia dos fatos e o contexto é possível entender os motivos da farsa ter durado mais de quarenta anos.

Quando a espécie foi anunciada, poucos hominídeos haviam sido descobertos e o conhecimento sobre sua evolução era escasso. E as caracteristicas do achado pareciam confirmar a teoria vigente de que a alimentação atual evoluiu depois do cérebro. Também a técnica de datação pelo flúor só foi desenvolvida anos depois. O nacionalismo pode ter influenciado a aceitação do fóssil pelos cientistas britânicos. Já haviam encontrado hominídeos fósseis na Alemanha e na França, mas não na Inglaterra. Isso explicaria o fato de os primeiros críticos serem de outras nações.

É muito mais provável que a criação e longa duração do embuste, tenha sido motivada mais por ambições pessoais e pela falta de conhecimento da época. Hoje em dia, seria muito difícil que algo assim durasse tanto tempo, com os recursos tecnológicos disponíveis para a investigação atualmente. A ciência com sua continua revisão garante que as fraudes sejam descobertas e se chegue mais próximo da realidade.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mais um pterossauro

O Brasil já conta com uma verdadeira coleção de espécies de pterossauros, rica em quantidade e variedade. Paleontólogos identificaram mais uma espécie de réptil voador que viveu em nosso país.

O Tupuxuara deliradamus, de 4,5 metros de invergadura e de 100 milhões de anos de idade. Seu nome científico foi dado por causa do formato da fenestra nasorbital, localizadano crânio e que possui formato de diamante.

A característica mais marcante é a crista localizada no topo de sua cabeça e que segundo o paleontólogo Mark Witton servia apenas para indicar dimorfismo sexual. O que contrária a hipotese formulada pelo paleontólogo brasileiro Alexander Kellner, de que a crista serviria para resfriar o corpo do animal, tal qual o radiador de um carro.

Mas, Witton firma que os vestígios de vasos sanguíneos são muito superficiais e dessa forma não poderia exercer essa função. Argumenta ainda que em outros tupuxuaras, a crista só é encontrada desenvolvida em indivíduos adultos o que reforçaria a sua tese.

A descoberta causou rebuliço não só pelo conteúdo científico, mas também pelo fato do fóssil brasileiro ter sido estudado e descrito em uma universidade do exterior. A venda de fósseis é proibida por lei e existe suspeita de contrabando para o exterior.