quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Fósseis transicionais: Testemunhas da evolução


A revista Nature publicou no dia 6 de abril de 2006, um extenso artigo que causou grande repercussão no meio científico. Nele, paleontólogos descrevem a descoberta do Tiktaalik roseae. Uma espécie de peixe que viveu no Devoniano a aproximadamente 375 milhões de anos onde hoje é o Ártico.

Sua descoberta é notável porque apresenta uma série de características distintas de peixes e tetrápodes; a começar pela sua cabeça. O crânio do tiktaalik possui região opercular reduzida e parte anterior alongada, indicando mudanças na alimentação e na respiração para um modo semi-terrestre. Além de sua anatomia indicar o surgimento de ouvidos e entre as inovações, também está um pequeno pescoço, ausente em peixes, o que lhe daria maior mobilidade ao capturar presas.

Suas nadadeiras têm estruturas ósseas homólogas aos membros de vertebrados terrestres muito semelhantes a ombros e punhos. Os "pulsos" - as pontas das nadadeiras - podiam se dobrar para apoia-lo no solo. Ainda há indícios de músculos que movimentariam o membro e proporcionariam sustentação, o que aproxima a espécie dos anfíbios. Por outro lado as nadadeiras raiadas – sem dígitos – escamas e brânquias o colocam ao lado dos osteíctes. É a primeira vez que se encontra um intermediário entre as duas classes com membros mistos.
Outra peculiaridade são suas costelas que montam umas nas outras formando placas rígidas, típico de um animal que precisa enfrentar a ação da gravidade e assim se sustentar.

Estava bem adaptado a vida em águas rasas, como revela o crânio achatado e os espiráculos no alto da cabeça que mostram a existência de respiração pulmonar. Semelhante aos anfíbios atuais, apesar de ter vida essencialmente aquática como mostra os arcos branquiais bem desenvolvidos. Seus olhos no topo da cabeça podiam ficar atentos tanto a atividade dentro e fora d'água.

Apesar do barulho, os criacionistas não se manifestaram. Exceto por algumas poucas e tímidas declarações. Esse grupo afirma de forma categórica que fósseis transicionais não existem e que todas as descobertas são fraudes. Entretanto não apresentam evidências que reforcem suas acusações. Seus argumentos não são apresentados ao meio acadêmico e sim ao público de seu interesse.

Fósseis transicionais, popularmente chamados de elos perdidos, são restos de seres vivos que apresentam características distintas de grupos diferentes, indicando uma relação de parentesco.
São conhecidos desde o século XIX, em meio ao início da paleontologia. E uma das primeiras descobertas é o célebre Archaeopterix, descoberto na formação de Solnhofen, Alemanha. Em sua anatomia é possível ver características típicas de aves como penas, asas e fúrcula com outras de répteis como dentes, ausência de bico e cauda semelhante à dos dinossauros.

Achados como esse, permitem remontar a trajetória evolutiva de diversos táxons e mostrar como foi o processo de surgimento de estruturas adaptativas. A espécie encontrada pode não ter dado origem a um clado, porém dá pistas de como pode ter sido um ancestral direto. O archaeopteryx, por exemplo, pode não ter dado origem as aves modernas, e sim a um ramo de aves primitivas, já extintas, segundo algumas hipóteses.

Outra alegação é que o registro fóssil possui muitas lacunas e que descrever os processos evolutivos através dos transicionais é um método inadequado. Os buracos existem pelo fato de que a fossilização é um fenômeno raro, nem todos os seres vivos se fossilizem, espécies podem ter surgido e se extinguido sem deixar rastro algum. A fossilização só ocorre em circunstancias especiais e processos geológicos como vulcanismo e a metamorfisação podem destruir a camada de rocha sedimentar. Apesar da irregularidade de certas linhagens, existem ramos na arvore evolutiva bem completos, como o da evolução do homem e a do cavalo. Em que é possível ver detalhadamente os passos evolucionários.

A evolução biológica ocorre de forma gradual, tal qual um arco-íris, onde apesar de você poder distinguir cada cor separadamente, mas não se consegue ver um limite claro entre elas e sim uma transição gradual entre os diferentes tons. Os fósseis transicionais testemunham essa evolução entre os seres vivos de forma evidente na ciência atual.

Textos complementares
Fontes:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O maior dos roedores gigantes


Crânio fóssil de 2 a 4 milhões de anos permitiu descrição de animal que pesava mais de uma tonelada


lista dos roedores gigantes extintos acaba de ganhar um elemento de peso. Com mais de uma tonelada, o Josephoartigasia monesi é a maior espécie desse grupo já registrada. Ele foi descrito a partir de um crânio quase completo e muito bem preservado, encontrado na formação de São José, no Uruguai, com idade entre 2 e 4 milhões de anos. Embora os roedores atuais sejam em geral pequenos – salvo poucas exceções, como a capivara, que pesa aproximadamente 60 kg –, várias espécies extintas alcançaram tamanho muito maior. Hoje, são conhecidas 60 espécies para a fauna de grandes roedores extintos da América do Sul. Mas não se sabia muito sobre a anatomia desses animais, porque os restos fósseis encontrados se restringiam a dentes isolados e fragmentos de mandíbulas. A descoberta do crânio quase completo do J. monesi, publicada esta semana no periódico Proceedings of the Royal Society B, fornece novas informações sobre esses roedores gigantes. A principal característica da nova espécie, descrita pelos pesquisadores Andrés Rinderknecht, do Museu Nacional de História Natural e Antropologia (Uruguai), e Ernesto Blanco, da Faculdade de Engenharia do Instituto de Física de Montevidéu (Uruguai), é seu tamanho extremamente grande. Com base no comprimento total do crânio – 53 cm –, sua massa corporal foi estimada em 1.008 kg. “Não temos uma avaliação técnica para o comprimento do J. monesi, mas a estimativa é de que seja de cerca de três metros”, conta Blanco à CH On-line. Os autores afirmam que o crânio do J. monesi é claramente maior do que o do Phoberomys, considerado anteriormente o maior roedor que já existiu, com massa corporal estimada entre 400 e 700 kg. Segundo eles, os fragmentos fósseis disponíveis de Phoberomys indicam que seu crânio tinha aproximadamente 65% do tamanho do crânio dos animais do gênero Josephoartigasia. “Podemos então concluir, com alto grau de confiança, que nosso espécime de J. monesi tinha massa corporal cerca de duas vezes maior que a do Phoberomys, o que faz dele o maior roedor conhecido que já existiu”, dizem no artigo.



Dieta de plantas aquáticas Assim como outros representantes da família Dinomyidae, o J. monesi tinha todos os dentes molares e pré-molares relativamente pequenos em comparação com o tamanho do crânio. Por outro lado, seus incisivos chegavam a vários centímetros. Essas características sugerem que o animal tinha músculos de mastigação fracos para triturar comida, o que poderia resultar em uma dieta composta por vegetação não muito dura e frutas. É possível que eles dependessem de plantas aquáticas para se alimentar. Os pesquisadores acreditam que esse roedor viveu em locais de floresta próximos à foz de rios. O ambiente era dividido com outros roedores gigantes, tigres dentes-de-sabre, pássaros carnívoros gigantes, mamíferos da ordem Xenarthra (como tamanduás, tatus e preguiças), capivaras e variados mamíferos ungulados (que compreendiam animais com casco nas patas). “Essa descoberta é muito importante para completar nossa imagem da fauna sul-americana 4 milhões de anos atrás e também para o entendimento da evolução dos roedores e do problema da massa corporal em geral”, avalia Blanco. Segundo ele, o achado do crânio completo de J. monesi permitirá ainda a realização de estudos sobre a força da mordida do animal e vai aprofundar o conhecimento sobre esse grupo de mamíferos.



Thaís Fernandes Ciência
Hoje On-line
16/01/2008