domingo, 14 de outubro de 2007

Cientista cria cromossomo que pode gerar nova forma de vida

Craig Venter desenvolve gene sintético a partir de substâncias químicas fabricadas em laboratório


LONDRES - O cientista americano Craig Venter, diretor do Venter Institute de San Diego, Califórnia, criou um cromossomo sintético que pode levar à criação da primeira nova forma de vida artificial na Terra, antecipa em sua edição deste sábado, 6, o jornal britânico The Guardian.

Em declarações à publicação, Venter explica como, a partir de substâncias químicas fabricadas em laboratórios, se chegou à elaboração de um cromossomo totalmente sintético.

O cientista deverá divulgar a descoberta dentro de algumas semanas, mas o anúncio poderá ser antecipado para a reunião anual do Venter Institute, que será realizada na segunda-feira.

Venter afirmou ao Guardian que esse marco científico representaria "um passo filosófico muito importante na história das nossas espécies". "Vamos deixar de somente ler nosso código genético a poder escrevê-lo, e isso nos dá a capacidade hipotética de fazer coisas que nunca antes contemplamos", afirmou.

Novas espécies

A descoberta, como lembra o jornal, provocará intensos debates sobre a ética da criação de novas espécies.

O Guardian adianta que uma equipe de 20 cientistas, escolhida pelo próprio Venter, e liderada pelo cientista americano Hamilton Smith, conseguiu criar um cromossomo sintético, algo que não tinha sido alcançado até o momento.

Com técnicas de laboratório, os especialistas juntaram um cromossomo de 381 genes que contém 580 mil pares de bases do código genético, segundo o Guardian.

A seqüência de DNA se baseia na bactéria "Mycoplasma", que a equipe reduziu aos elementos básicos necessários para a vida, e eliminaram uma quinta parte de sua composição genética. O cromossomo sinteticamente reconstruído foi batizado pela equipe como "Mycoplasma laboratorium".

Depois os especialistas transplantaram o cromossomo artificial para uma célula bacteriana viva, e na fase final do processo espera-se que o cromossomo tome o controle dessa célula para se transformar em uma nova forma de vida.

Genoma

O Guardian publicou que a equipe de cientistas conseguiu transplantar com sucesso o genoma de um tipo de bactéria à célula de outra, transformando-a.

Venter disse estar "100% convencido" que a mesma técnica funcionaria para o cromossomo criado de forma artificial.

Essa nova forma de vida dependerá de sua capacidade para duplicar a si mesma e se metabolizar na maquinaria molecular da célula na qual foi inserida.

No entanto, o jornal acrescenta que o DNA será artificial e é ele que controla a célula.

Venter acredita que os genomas têm um potencial positivo enorme caso sejam usadas de forma adequada e a longo prazo podem levar a descoberta de fontes alternativas de energia.


Fonte: http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid61203,0.htm

sábado, 13 de outubro de 2007


Existe uma razão para o desdém dos gatos pelo açúcar – e seu amor pela ração úmida em vez da seca


por David Biello


Açúcar, condimentos e outras coisas gostosas parecem não ser nada atraentes para os gatos. Nossos amigos felinos se interessam por apenas uma coisa: carne (e também, é claro, uma soneca revigorante para poder continuar caçando, ou uma preguiçosa sessão de carinho). Isso não acontece só porque dentro de cada gatinho malhado se esconde um assassino pronto para agarrar um passarinho ou torturar um camundongo, mas também porque os gatos não possuem a capacidade de sentirem o sabor doce – diferentemente de todos os outros mamíferos pesquisados até hoje.


A língua da maioria dos mamíferos é recoberta por grupos de papilas gustativas, sendo que cada grupo possui receptores para detectar sabores específicos. Cada papila possui proteínas em sua superfície que se ligam à substância em contato com ela, ativando os mecanismos internos da célula e enviando uma mensagem ao cérebro, que por sua vez decodifica o sabor. Humanos possuem cinco tipos de papilas gustativas (possivelmente seis): azedo, amargo, salgado, doce e umami (sabor que alguns aminoácidos como o glutamato e o aspartato produzem). Existe também a possibilidade de possuirmos um sexto receptor que identifica o sabor de gordura. O receptor de doce é, na verdade, é formado por duas proteínas emparelhadas, produzidas por dois genes diferentes, o Tas1r2 e o Tas1r3.


Quando funcionam normalmente, as duas proteínas emparelhadas identificam quando algo de sabor doce entra em contato com a língua, e a informação é rapidamente enviada para o cérebro. Isso porque o sabor doce é sinal de que um carboidrato rico em energia está chegando. Os carboidratos são importante fonte energética tanto para os herbívoros quanto onívoros, categoria na qual nos encaixamos. Mas os gatos são provenientes de uma linhagem nobre – a dos carnívoros – ou seja, se alimentam exclusivamente de carne.


Seja a dieta alimentar a causa ou efeito, todos os felinos, leões, tigres, ou um gato rajado comum são desprovidos de 247 pares de bases nitrogenadas que formam o DNA do gene Tas1r2. Como resultado, não se codifica propriamente uma proteína, nem um gene, apenas um pseudo gene, o que não permite que os gatos sintam o sabor doce. “Os felinos não sentem o sabor doce do mesmo modo que nós”, afirma Joe Brand, bioquímico e diretor associado do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia. “Por um lado podemos dizer que os gatos são sortudos: você já viu como eles têm dentes saudáveis?”.


Brand e seu colega Xia Li descobriram o “pseudo-gene”, após décadas de evidências seguidas como, por exemplo, o fato de que os gatos não mostrarem nenhuma preferência entre água açucarada e água pura – fato que não acontece com outros animais, que tem interesse pela água adoçada. É claro que existem histórias de gatos que tomam sorvete, que comem algodão doce e correm atrás de marshmallows. “Talvez alguns gatos possam usar seus receptores Tas1r3 para provar açúcar em alta concentração.” Diz Brand. “É um fato incomum, e ainda não temos certeza” conclui.


No entanto, os cientistas sabem que os felinos conseguem provar sabores que nós não conseguimos definir, como o da adenosina trifosfato (ATP), o composto que fornece energia a cada célula viva. “Esse é um sinal de que estão comendo carne” Brand explica. “Vários outros animais possuem diferentes tipos de receptores”, explica Li. Desde galinhas, que também não possuem o receptor para doce, ao bagre, que consegue detectar aminoácidos na água mesmo em concentrações nanomolares. “Seus receptores são mais sensíveis do que a concentração de fundo,” explica Brand, “O bagre que consegue localizar a comida em decomposição mais rapidamente é o que tem mais chances de sobreviver”.


Até agora os felinos são os únicos mamíferos que não tem o “gene do doce”; mesmo seus parentes próximos, também carnívoros, como as hienas e mangustos possuem a capacidade de detectar o sabor doce. Além disso, os felinos podem não ter outras funções relacionadas ao aproveitamento (e digestão) de açúcares, como a glucoquinase, uma enzima encontrada no fígado, fundamental no metabolismo dos carboidratos e responsável por evitar o excesso de glicose no organismo. Apesar disso, os maiores fabricantes de rações para gatos nos Estados Unidos usam milho e outros tipos de cereais em suas formulações. “Talvez esse seja o motivo dos gatos começarem a apresentar problema de diabetes” sugere Brand. “A ração para felinos contém 20% de carboidratos. Os gatos não estão acostumados, e por isso o organismo não sabe como tratar adequadamente essa fonte de nutrientes.” É muito provável que esses incríveis predadores suburbanos estejam se machucando por não sentirem o sabor daquilo que estão ingerindo. Mas isso não quer dizer que os apaixonados por gatos devam se preocupar se o gatinho resolver caçar uma sobremesa mal vigiada.