quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O bicentenário de Charles Darwin

POR EDUARDO REAL

Em 1835, Charles Darwin estava nas ilhas Galápagos, durante uma parada do HMS Beagle em sua expedição geográfica pela América do Sul. Em terra, o cientista britânico explorou a biodiversidade das ilhas vulcânica. Iguanas-marinhas que com sua cor pareciam rochas que ganharam vida. No interior, viu os jabutis-de-Galápagos, lentos e pesados, que mais pareciam um autoretrato vivo da ilha. E um grupo variado de pássaros que ficaria ligado ao seu nome para sempre. A estadia durou apenas seis semanas, muito pouco se comparado aos cinco anos de viagem a bordo do Beagle, mas revolucionou a ciência. A expedição, está sendo muito relembrada agora, com a comemoração dos 200 anos de nascimento de Darwin e dos 150 anos da teoria da evolução.

Charles Robert Darwin nasceu em 12 de Fevereiro de 1809, em Shrewsbury. Filho do médico Robert Darwin, veio de uma familia abastada e alimentava o interesse pelo mundo natural desde a infância, quando coletava insetos e ovos de pássaros. Na juventude, foi para a faculdade de medicina, seguindo os mesmos passos do pai. Porém, a brutalidade dos procedimentos médicos da época fez com que ele abandonasse o curso. Então, entrou na faculdade de teologia formando-se teólogo. Mesmo assim, mantinha a paixão pela biologia, vinda desde o tempo em que colecionava besouros. Assim Darwin entrou no curso de ciências naturais, onde estudou biologia e geologia e conheceu John Steves Heslow, que se tornou seu mentor e o recomendou como acompanhante do capitão Robert FitzRoy, em sua expedição a bordo do HMS Beagle que mapearia a costa da América do Sul.

Partindo da Inglaterra, o navio cruzou o Atlantico, passando por Cabo Verde e chegando ao Brasil, onde teve seu primeiro contato com a floresta tropical. Passando depois pela Argentina e pelos Chile, sempre coletando animais, plantas e fósseis, enviando-os a Inglaterra. Durante a viagem, leu dois livros que o influenciariam muito, "Princípios da Geologia" de Charles Lyell, ao qual dizia que a paisagem terrestre não é imutável, sendo moldada por diferentes mecanismos geológicos. Quando estava escavando Andes, encontrou conchas de moluscos marítimos no alto de uma montanha. Darwin constatou que no passado aquela região já havia sido coberta pelo mar e, posteriormente, havia se elevado. Era uma evidência que reforçava as idéias de Lyell.

Então a expedição partiu do continente, chegando até as Galápagos. Lá, observou a fauna, com animais totalmente diferentes das que havia visto. E entre as espécies capturadas estavam algumas corruíras. Ele notou que elas se diferenciavam de uma ilha para outra e se lembrou do que haviam dito sobre as tartarugas do arquipélago: que era possível saber de qual ilha era cada uma, apenas pelo formato do casco. Chegou a conclusão de que as espécies, assim como a formação geologica, se modificavam ao longo do tempo. Então depois de passar pelas ilhas do Pacífico, Austrália e pela África, chegou a Inglaterra em 2 de Outubro de 1936. No seu retorno, Darwin já era uma celebridade no meio científico, graças aos exemplares e anotações mandados durante a viagem. Durante esse tempo, seu pai fez investimentos lhe garantindo uma boa renda sem que precisasse trabalhar. Assim, tinha tempo integral para se dedicar a sua carreira de naturalista.

Então, sem perder tempo, começou a trabalhar em sua teoria. A sua viagem havia lhe dado um material de pesquisa riquíssimo e começou a estudá-la. Só então percebeu que os tentilhões de Galápagos variavam de forma, de uma ilha para ilha, apresentando bicos adaptados para diferentes tipos de alimento. Também analisou melhor os jabutis-de-Galápagos vendo seus o casco diferentes. Darwin constatou que todos os tentilhões, se originaram de um ancestral vindo do continente e que se espalhara pelo arquipélago, sendo selecionados pelo ambiente. E todos os seres vivos seriam descendentes de um único ancestral, incluindo nossa espécie.

E na época, havia lido o livro "Princípios da População" de Thomas Malthus, que afirmava que a população crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética e no futuro não haveria recursos disponíveis para todos, gerando uma intensa competição. Darwin percebeu que o mesmo acontecia na natureza, os seres vivos tinham uma descendencia muito grande, mas poucos deles sobreviviam pois não havia recursos para todos, existindo uma competição entre eles e os indivíduos que tivessem características que lhe dessem vantagem, aumentaria suas chances de sobrevivencia e deixaria mais descendentes. Seria esse o mecanismo responsável pela origem de todos os seres vivos

Esses anos foram intensos. Encontrou-se com naturalistas, analisou coleções científicas, leu vários artigos e publicou livros. Ao mesmo tempo que pesquisava a criação de animais domésticos e culturas agrícolas. Havia notado a grande variedade de formas que elas possuíam e viu ali um meio de como entender o processo que ocorria na natureza. Ele mesmo se tornou um ávido criador de pombos. Durante todo esse período, Darwin se casou com sua prima Emma Wedwood e nasciam os seus primeiros filhos e enquanto continuava suas pesquisas e constituía família, o seu estado de saúde piorava. Havia contraído uma doença ainda durante sua viagem a América do Sul e o acompanharia até sua morte. Em 1958, recebeu uma carta de um jovem naturalista chamado Alfred Russel Wallace que apresentava uma teoria muito semelhante a sua. Então, decidiu publicá-la junto de seu trabalho, tendo Wallace como co-autor. E, em 24 de Novembro 1859, era publicado o A Origem das Espécies; que trazia todo os seus últimos 20 anos de trabalho.

Todos os 1250 exemplares, desapareceram das livrarias no mesmo dia. A teoria apresentada causou repercussão. Mas a controvérsia ultrapassou o ambiente acadêmico. A proposta de que os seres vivos se originaram unicamente por processos naturais era contrária a visão religiosa baseada no relato bíblico da criação, disseminando o debate ao público. Os amigos de Darwin levaram a discussão ao meio científico e defenderam a teoria dos ataques religiosos.

O próprio Darwin, manteve-se longe da polêmica, não se envolvendo nas discussões, nem comentado a respeito da origem humana. Entretanto, trataria do assunto uma década depois no livro "A Origem do Homem e Seleção em relação ao Sexo". Onde afirmou que nossos ancestrais seriam semelhantes aos primatas atuais. Ele ainda escreveu outros livros e, no fim da vida, realizaria trabalhos sobre a polinização de orquídeas e continuaria a escrever; trabalhando ativamente até a sua morte, em 19 de abril de 1882. Sendo enterrado na abadia de Westminster, junto de Isaac Newton e Charles Lyell.

Após o lançamento de o "A Origem das Espécies", boa parte dos cientistas aceitou os argumentos sobre a evolução dos seres vivos, mas rejeitou a seleção natural como meio que promovia a mudança. Darwin não havia proposto um mecanismo de herança que explicasse como as características passavam entre as gerações. E durante alguns anos a teoria proposta ficou em segundo plano, até o começo do século XX, quando o trabalho do monge austríaco Gregor Mendel foi aceito, dando a teoria as leis de hereditariedade que explicavam a passagem dos caracteres de uma geração para outra; possibilitando a comprovação empírica da seleção natural. Nessa época, cientistas como John Fisher, H B S Haldane e Seal Wright apresentaram seus trabalhos sobre genética das populações. Teodosius Dobzhansky realizava suas experiências com as moscas Drosophilas. Ernest Mayr concebia o conceito biológico de espécie. E George Gaylord Simpsom desenterrava descendencia do cavalo. Esses e outros, conseguiram dar uma base sólida a teoria proposta por Darwin.

Chegando aos tempos atuais, com ainda mais evidências acumuladas ao seu favor. A descoberta do DNA possibilitou saber a semelhança genética entre as espécies, os avanços na biologia molecular tornaram possível a comparação bioquímica entre os diferentes seres vivos. E os mais diversos fósseis transicionais encontrados permitem saber como ocorreu a diversificação de vários grupos.

Charles Darwin teve toda sua vida marcada pelo estudo das formas de vida. Ele observou na natureza as diferenças entre os seres vivos e conseguiu perceber os processos que estavam por trás de toda a biodiversidade. A teoria da evolução pela seleção natural por ele concebida explica como todas as formas de vida surgiram, sendo o princípio unificador da biologia moderna. Ao mesmo tempo, que afastou as explicações metafísicas baseadas na religião do campo da biologia, consolidando-a como ciência. Darwin ainda foi um dos primeiros a fazer anotações a análises sobre animais, plantas caracteristicos de cada ambiente e das relações entre eles, sendo por isso chamado de o pai da ecologia. Também fez trabalhos sobre geologia e descobriu como se formam os atóis. Deixando seu nome entre os grandes da ciência.

4 comentários:

Prof. Fabiano disse...

muito bom parabéns pela iniciativa, abraços

Professor Galvão disse...

Show.
É muito bom saber da existência de seu blog. Uma fonte legal de consulta.

Eduardo Real disse...

Obrigado pelos comentários! Eu fiz esse blog para fazer divulgação científica de qualidade. Espero estar conseguindo. ;)

Abraços

David disse...

Estou estudando a teoria de Darwin na faculdade e acho que é muito interessante. meu professor me disse que eu tenho que comprar um livro sobre ele.. amanhã eu vou ao shopping para comprar ração para coelhos e eu vou tomar e ir para a biblioteca e ver se eu posso encontrar o livro.