Cientistas “redescobrem” espécie de mosca caribenha que habita o corpo de caranguejo
O interior da boca e o corpo de caranguejos são a curiosa morada de uma espécie de drosófila endêmica das ilhas Cayman, no Caribe. Essas moscas se alimentam de micróbios disponíveis no corpo do crustáceo e não eram observadas desde 1966. Elas acabam de ser “redescobertas” por cientistas alemães, que puderam estabelecer seus laços de parentesco com outras espécies da mesma família.
A mosca em questão – a Drosophila endobranchia – vive no corpo do caranguejo da espécie Gecarcinus ruricola. “Os ovos da mosca são depositados ao redor dos olhos do caranguejo”, explica à CH On-line o biólogo Bill S. Hansson, do Instituto Max Planck de Ecologia Química, na Alemanha, membro da equipe que estudou a espécie. “Após eclodir, as larvas migram para as patas, onde se alimentam de micróbios presentes na urina do animal. Em um segundo estágio, as larvas de deslocam para as guelras, onde permanecem por meses.”
Em seguida, as larvas da mosca se instalam ao redor da abertura da boca do caranguejo, até se tornarem indivíduos adultos. “Elas continuam então no organismo do crustáceo, tanto na carapaça como em partes da boca”, completa Hansson. O pesquisador destaca que essa relação não traz vantagens ou desvantagens ao caranguejo – apenas a mosca é beneficiada.
A espécie é pertence ao mesmo gênero da Drosophila melanogaster, um dos organismos modelo de estudos genéticos mais populares em laboratórios do mundo inteiro. Hansson lembra que, embora as drosófilas sejam comumente conhecidas como moscas-das-frutas, a maioria das espécies desse gênero se alimenta de microrganismos. Além da D. endobranchia, outras espécies também utilizam caranguejos como substratos, pelos mesmos motivos.
É o caso da D. carcinophila, também encontrada no Caribe, e da Lissocephala powelli, restrita à ilha Christmas, no oceano Índico. Para Hansson, trata-se de um caso de evolução paralela – em que espécies distintas com um ancestral comum desenvolveram características semelhantes devido a pressões evolutivas similares.
Mosca sumida
A D. endobranchia foi descrita pela primeira vez em 1966 e depois nunca mais foi estudada. A equipe de Hansson decidiu reencontrar a espécie para entender melhor sua relação com outras drosofilídeas. Em expedição às ilhas Cayman no início do ano passado, o grupo conseguiu coletar 66 espécimes.
A análise morfológica e molecular da espécie redescoberta, publicada este mês na revista Plos One, permitiu redefinir sua filogenia. “Os próximos passos são compreender com mais detalhes os hábitos dessa mosca e realizar exames genéticos aprofundados, para que possamos estabelecer sua posição na árvore genealógica das drosófilas”, prevê o biólogo.
Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
22/04/2008
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