quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Um olho muito especial


Estrutura anatômica incomum é identificada no bulbo ocular da gralha-azul


Ave-símbolo do Paraná, responsável pela dispersão de sementes da araucária, a gralha-azul (Cyanocorax caeruleus) tem bulbos oculares (olhos) diferenciados. Em estudo feito recentemente, o veterinário Fabiano Montiani-Ferreira, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), identificou nessa ave da família dos corvídeos uma estrutura óssea incomum no nervo óptico, também conhecido como ossículo de Gemminger, ou osso óptico. Esse elemento mostrou-se rico em medula óssea. Embora a ocorrência de anel ósseo ao redor da parte branca do olho (esclera) seja comum entre as aves, a presença de um osso em torno do nervo óptico é exclusiva de alguns grupos. “Esse pequeno osso já havia sido descrito na década de 1950 em algumas espécies de aves, mas só agora foi identificado na gralha-azul”, ressalta Montiani. A real função da estrutura permanece desconhecida, pois ainda não foi suficientemente investigada. Suspeita-se que sua presença torne o ponto de inserção do nervo óptico na esclera mais rígido, o que ajudaria a dar sustentação à estrutura anatômica e a reduzir as conseqüências de impactos mecânicos.


Com esse estudo, a equipe de Montiani deseja reacender o interesse pela investigação sobre a prevalência, o desenvolvimento e a função desse enigmático elemento anatômico das aves. Os pesquisadores da UFPR, que se dedicam também ao estudo do olho de diferentes espécies animais, pretendem ainda compreender melhor as doenças que acometem a visão de espécies selvagens e exóticas. Segundo Montiani, isso vem dando subsídios para se conhecer melhor a visão humana, já que os olhos dos vertebrados apresentam as mesmas estruturas fundamentais. Cabe lembrar que algumas células do olho humano, particularmente da retina, ainda não são totalmente conhecidas. Com a identificação da estrutura óptica na gralha-azul – que enfrenta situação crítica no Paraná em virtude da derrubada das florestas de araucária –, a equipe alerta para a importância da preservação de animais que sofrem risco de extinção. A gralha-azul é membro de uma família de aves de ampla distribuição geográfica e que ocorre sobretudo em regiões de clima temperado. É encontrada em matas que se estendem, no Brasil, entre os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul; está presente também no Paraguai e no norte da Argentina. Com aproximadamente 40 cm de comprimento, a ave apresenta plumagem azul brilhante e olho fortemente pigmentado; já a cabeça, a parte ventral do pescoço e a parte cranial do peito têm coloração negra. Na lista das espécies animais mais apreendidas no sul do Brasil, a gralha-azul ocupa a 32ª posição.


Luan Galani

Especial para Ciência Hoje/PR

Um comentário:

Ravick disse...

Isso explica aquelas óbitas esquisias das aves.. :o